Ao construir o desfecho da premiada série Downton Abbey, os roteiristas deixaram bem clara a sensação de que a vida continua, apesar de estarmos nos deixando de observa-la diariamente. Assim, não é muito complicado encontrar pretextos para revisitar a propriedade e conferir como andam seus moradores. A primeira excursão de volta ao cotidiano dos Crowley e seus funcionários aconteceu em 2019. Em Downton Abbey - O Filme, um evento extraordinário, a visita da realeza nos levou de volta ao cotidiano da série. Agora, em 2022, são dois acontecimentos distintos que justificam nosso retorno.

A Condessa Viúva (Maggie Smith) descobre que herdou uma vila no sul da França de um antigo admirador. Assim, parte da família viaja para conhecer o lugar, e desvendar o mistério por trás do generoso presente. Enquanto isso, na propriedade  Mary (Michelle Dockery) recebe uma produção de cinema que deseja usar o castelo como locação, entusiasmando os empregados com o vislumbre de estrelas de cinema. 

Na verdade, não importam os eventos que justifiquem as sequencias de Downton Abbey, o verdadeiro motivo para retornar é o apego do público com os personagens, e o desejo de saber como estão seguindo em frente. Assim, além das problemáticas específicas desta produção em específico, o roteiro ainda nos atualiza das mudanças na vida dos personagens no período em que ficamos fora. Descobrimos, quem casou, quem teve filhos e como estão as relações entre os personagens. Além de um pouco da evolução individual de alguns deles, como o anseio de Barrow (Robert James-Collier) e o desgaste no casamento de Lady Mary. 

Os dilemas específicos do filme por sua vez, nos mostram os personagens em situações novas, e em sua maioria divertidas. Os Crowley de férias, o sisudo mordomo Mr. Carson (Jim Carter) lidando com clima quente, Daisy (Sophie McShera) tentando fazer amizade com uma estrela de cinema, e a desconfiança da família em relação ao passado da Condessa Viúva.

O roteiro se desdobra, mas consegue oferecer tempo de tela satisfatório para seus muitos personagens fixos. E ainda acomoda os personagens novos que movimentam a trama, como o diretor de cinema vivido por Hugh Dancy e o outro possível herdeiro da vila, interpretado por  Jonathan Zaccaï. O resultado, assim como no longa anterior, é um ritmo mais acelerado que o da série de TV, mas que não chega a descaracterizar a produção.

E por falar em características da produção, a fotografia, trilha sonora, figurino deslumbrante, além das locações no Highclare Castle, estão de volta impecáveis como eram na série. Garantindo a familiaridade que os fãs buscam, mesmo quando a aventura encontra locações novas no sul da França. 

A única grande falha de Downton Abbey II: Uma Nova Era é a incapacidade de atingir novos fãs. Muito mais dependente da bagagem da série que o filme anterior, novos espectadores podem se sentir deslocados sem o conhecimento do histórico e motivações dos personagens. Felizmente a produção parece ciente de sua limitação. É feita para o público cativo, que quer passar mais tempo com os personagens. E tá tudo bem!

Matar a saudade de Downton Abbey e seus ilustres habitantes. Este é o verdadeiro propósito de Downton Abbey II: Uma Nova Era. Tarefa que cumpre com excelência, apresentando não apenas uma aventura divertida, mas conseguindo até evoluir um pouco sua história. Mantendo a sensação de que por mais que a série não exista mais, a vida de seus adorados personagens continua, com problemas e alegrias assim como as nossas próprias vidas. 

Atualmente as seis temporadas de Downton Abbey estão disponíveis no Prime Vídeo, já Downton Abbey - O Filme está na Netflix. 

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