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Câmara Escura - Miguel Torga (na passagem do centenário do nascimento do grande poeta)

Devagar,
Hora a hora,
Dia a dia,
Como se o tempo fosse um banho de acidez,
Vou vendo com mais nitidez
O negativo da fotografia.

E o que eu sou por detrás do que pareço!
Que seguida traição desde o começo,
Em cada gesto, em cada grito,
Em cada verso!
Sincero sempre, mas obstinado
Numa sinceridade
Que vende ao mesmo preço
O direito e o avesso
Da verdade.

Dois homens num só rosto!
Uma espécie de Jano sobreposto,
Inocente,
Impotente,
E condenado
A este assombro de se ver forrado
Dum pano de negrura que desmente
A nua claridade do outro lado.

in Antologia Poética de Miguel Torga

Adolfo Correia da Rocha, que usou o pseudónimo literário de Miguel Torga, nasceu a 12 de agosto de 1907 em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes, tendo falecido em Coimbra a 17 de janeiro de 1995.



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