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Dez anos depois: mesmo desenho, mesma realidade?

Em 27 de julho de 2008, publiquei neste blogue uma entrada intitulada ” “Cabral censura Desenho de Latuff”, de Marcelo Salles“. Nele, eu reproduzia uma notícia/denúncia publicada pelo jornalista Marcelo Salles. O desenho era este ao lado.

Desenho do cartunista Carlos Latuff.

Eis a íntegra do que publiquei:

“Está disponível no ProtoBlog do jornalista e editor do Fazendo Media.

Acontece mais ou menos o seguinte, como afirma o cartunista Latuff, autor do desenho que ofendeu o governador: polícia matar, pode; desenhar a polícia matando, não.

Vivemos num estado em que o governador não se ofende quando a polícia comandada por ele mata. Pelo contrário: bate palmas e elogia. Mas, quando um cartunista que trabalha com os movimentos sociais faz um desenho que retrata a realidade, a obra é censurada. O que é mais grave: um desenho retratando uma polícia que mata ou a política de extermínio praticada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, comandado por Sérgio Cabral Filho (PMDB)?

Abaixo, um trecho da arguta análise de Marcelo Salles:

“A reação contra o outdoor nos remete à análise da força que uma imagem pode ter. E aí a gente volta para a questão do poder dos meios de comunicação de massa, especialmente numa cidade como o Rio de Janeiro, que tem aproximadamente 6 milhões de habitantes. Enquanto os detentores da produção e veiculação das mensagens imagéticas forem os representantes da direita, não haverá problema. Podem, tranqüilamente, veicular mensagens preconceituosas e até fascistas como vemos em novelas e filmes policialescos cujas mensagens legitimam a tortura e o extermínio das classes marginalizadas pelo sistema capitalista. No entanto, se a imagem for concebida por um artista de esquerda, forjado nas lutas contra a violência e a opressão do sistema capitalista, moverão mundos e fundos para censurá-la – o que conseguirão com freqüência, até que os movimentos sociais e os partidos políticos que defendem as maiorias viabilizem seus próprios veículos de comunicação de massa (jornais, rádios, televisões, outdoors, entre outros).“”

O site Fazendo Media, no qual Marcelo Salles publicava seus textos e mantinha seu blogue, infelizmente há anos está fora do ar. Contudo, o texto foi publicado também no Centro de Mídia Independente e pode ser visto aqui.

Por que estou retomando esse episódio? Por que é impossível não lembrar dele ao ver o desenho abaixo, do cartunista Ribs. Ele retrata o assassinato, esta semana, de um menino de 14 anos – Marcus Vinicius da Silva – que ia para a escola. De novo, está lá a camisa da rede municipal do Rio de Janeiro.

https://www.facebook.com/plugins/post.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fmatheusribsoficial%2Fposts%2F1015925868566416%3A0&width=500

Em tempo: não é tudo fruto do golpe. O PT participou ativamente do secretariado de Sergio Cabral Filho (PMDB) desde o início. A participação durou a maior parte dos oito anos de mandato como governador. No fim de 2013, uma das iniciativas de saída do governo de Cabralzinho foi cortada por cima, por intervenção do Grande Líder – aquele que, segundo muita gente, nunca erra em suas escolhas (como, por exemplo, nos ministros do Supremo, na sucessão presidencial, no vice-presidente da chapa, nos ministros e partidos aliados etc.).

Parece-me óbvio que temos hoje um país, um estado do Rio e uma capital muito piores que em 2008. Em grande parte, acredito, isso é fruto da cegueira, da arrogância, do ufanismo, das políticas e alianças daqueles anos. Tal como naqueles anos, parece-me que amplos setores da esquerda continuam acreditando que mistificar a realidade – usar as mesmas práticas da direita, mas com sinal contrário – é uma forma legítima de fazer luta política.



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