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DIZER MAL, OU MAL DIZER – linha editorial do "Aparas de Escrita"




Foto de Caron, Daniel no Flickr
www.flickr.com
Dizer mal e maldizer não são a mesma coisa. Pelo contrário, opõem-se.
Dizer mal implica sempre o prejuízo de alguém, geralmente com o intuito de agradar a terceiros, sobressair no grupo ou desviar a atenção das próprias misérias e mediocridades; é aquilo que em bom Português se designa por refinada sabujice.
Mas maldizer, relatar factos individuais ou colectivos, sociais ou políticos, que não se coadunam com os princípios da Ética, nem com os valores universais, nem com as regras da moral aceite, é um direito de cidadania e um dever cívico de toda e qualquer pessoa ou instituição.




O "Aparas de Escrita" apareceu no dia 5 de Abril de 2005.
Nem tudo, mas muito do que aqui tem sido escrito diz respeito ao Brasil, não por preconceito ou "perseguição", mas por motivos de experiência colhida, ora directamente, ora através de relatos alheios, em particular dos órgãos de comunicação social brasileiros.
E, face ao que se pode ler no blog, é possível que alguns leitores perguntem por que não me vou embora desta terra, uma vez que tão mal digo, que tanto me queixo dela. Eu, que vim de um país com outro grau de civilização e cultura, por que não regresso, a esse ou a outro ainda mais civilizado?
Julgarão, talvez, que me fico por aqui por obrigação ou fuga.
Ora, isto propõe-me algumas considerações, sempre saudáveis porque me obrigam a pensar, e podem constituir a definição da linha editorial do "Aparas de Escrita".
Primeiro, não desdigo nada do que está nestas crónicas, porque, felizmente nuns casos, infelizmente na maioria, não há motivos para desdizer. E quem achar que exagero ou que me move algum dos "ismos" que a intolerância e a cegueira de alguns me têm atribuído, que confronte os meus textos, corajosa e honestamente, com a realidade, mediante as notícias veiculadas pelos jornais, pelas rádios e pelas televisões do Brasil, e atente nos comentários e observações dos brasileiros que vêm o Brasil como ele, de facto, é, e não como gostaríamos que ele fosse.
Em segundo lugar, obrigações tenho para com a minha consciência, para com aqueles que amo e me amam, para com os que partilham comigo esta nau chamada Terra, e para com os que me governam, bem ou mal, para meu bem ou para meu mal.
Para com Deus, para com o meu Deus, não tenho obrigações. Ele nada me exige. Só eu posso exigir de mim para com Ele.
Sobre a minha consciência cabe dizer que nada me pesa, e que ela de nada e a nada me condena. Apenas me ajuda a ter um comportamento ético para comigo e para com o meu semelhante.
Quanto àqueles que me amam, a nada me obrigam, também, nem mesmo a pagar-lhes na mesma moeda de Amor, nem que seja por demonstrações públicas ou privadas.
Os companheiros caminhantes nesta viagem, esses me obrigam, pelo facto de existirem, embora sem palavras nem escrituras, a que os reconheça como iguais na mesma ânsia de alcançar a felicidade. Nada de imposto, pois, por eles próprios.
Perante os que me (des)governam, cumpro as normas, mesmo não concordando com elas, pois isso faz parte da aceitação das regras democráticas, ainda que as considere, pelo menos, discutíveis.
Fugas, a única que poderia tentar empreender seria a fuga de mim mesmo, por algum fantasma que eu representasse e me assustasse. Mas já me habituei o suficiente, o quanto baste, a aceitar-me e a viver comigo próprio.
Não tenho, pois, razões de fuga, nem de natureza pessoal, nem de carácter institucional.
Já vivi em vários países, e, independentemente da minha nacionalidade, que não renego, sempre achei que a "minha terra" era aquela onde, em determinado momento, ombreava com os meus semelhantes na responsabilidade pela transformação do mundo.
Vivo agora neste país por opção, por desejo, legalmente, com todas as autorizações concedidas pelo Estado Brasileiro.
Portanto, nada de segredos, nada de mistérios, nada de motivos escondidos.
É por viver aqui por opção, que aqui, aqui mesmo, fiz crescer a minha nova família com sangue brasileiro.
E é por viver agora aqui por opção, que não tenho sentido a necessidade de um regresso aos passados culturais em que me criei, cresci e vivi.
Motivos vários, quase todos profissionais, me levaram a viver em muito chão. Em todos eles as minhas raízes se agarraram com facilidade, sempre na certeza de que a árvore haveria de crescer. No entanto, a Terra é grande e nada deve ser considerado para sempre. Quem sabe que outros chãos me estarão reservados?
Deixei para o fim o "dizer mal".
Dizer mal, ou maldizer? Porquê dizer mal, ou porquê maldizer?
Nas minhas crónicas não pretendo dizer mal, maldizer sim, e a diferença é do tamanho da intenção de cada um.
Dizer mal pressupõe vaidades, vinganças, mentiras, mesquinhez, coisas gratuitas que acabam por sair caras, ao próprio e/ou a terceiros. Dizer mal para seguir a corrente, porque parece mal estar fora da corrente, porque estar fora da corrente cria mal-estar, exclusão. Então, para estar bem, fica bem dizer mal.
Maldizer é diferente. É o mal dizer do tronco medieval da crítica a pessoas, a grupos e a instituições que incita a modificações de hábitos, de modos de ser e de agir, para que o ser e o agir se comportem com ética, a Ética.
Porque vivo neste país por opção, é aqui que tenho de exercer a minha cidadania, tal como fiz quando vivi em Portugal, na Guiné-Bissau, ou em Angola, tal como fiz quando andei à descoberta de outros países do mundo.
Mais do que um direito, é uma obrigação este exercício de cidadania, entre povos em que vivo ou que visito.
A Constituição do Brasil me dá, como estrangeiro, direitos e deveres iguais aos que aqui nasceram.
Por isso, nesta luta com os meus pares por uma vida melhor para todos, exerço a minha cidadania com os meios que me são mais fáceis de manejar – escrever.
Vou continuar, pois, a maldizer, sem querer, nunca, dizer mal – seja do Brasil, seja de quem ou de que país for.


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