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Qualquer coisa, menos Lula!



Qualquer coisa, menos isso. Este é um pensamento típico de gente recalcada. O que é o recalque? É quando não posso nomear, porque ao reconhecer, faço existir o que não consigo suportar. Por que certas pessoas querem o Lula como carta fora do baralho? Lacan diz que quando amamos buscamos no outro o que nos falta. Na base do preconceito, ninguém que considero pior pode me dar o que não tenho. Só os perversos excitam-se com o baixo, o sujo, o podre e o grotesco. Nesse caso, então, Lula seria fetiche do amor e ódio de quem o rejeita. Não tenho dúvida de que Lula é o sintoma da classe média brasileira. O sintoma é o ódio que coloco no lugar do meu desejo – no sentido de segurar o recalque do amor que tanto nego. Quantos não são – duramente – discriminados por amarem alguém que lhes é – socialmente – considerado inferior? Lula é muito, por isso precisa ser tratado como resto, nada, estorvo, sobra, escombro, entulho. Não podemos deixar de considerar que grande parte do ódio ao cantor Chico Buarque, deve-se à dificuldade em admitir como uma pessoa como ele pode gostar de alguém que veio do nordeste montado em um pau de arara. Na psicanálise, tudo menos, pode ser tudo mais. Não há outra explicação para tanto ódio quando alguém diz preferir qualquer coisa a Lula. Qualquer coisa, é muito sintomático. Não estou dizendo que Lula não tenha cometido erros como presidente. O que me assusta é a não indignação para com certas figuras – e tanto desprezo quase todo dirigido apenas para ele. Tanto ódio, não pode ser só ódio. Se fosse ódio mesmo, ele não seria tão amado por tantos e por tanto tempo. Não é possível tanta gente equivocada – e por tantas décadas. E não se trata de paixão ou fanatismo, porque sabemos – muito bem – que toda paixão dura pouco. É uma pena que tanta gente prefira o suposto limpinho, engomadinho e que fala bonitinho, mas que – no fundo – só faz figuração política. É uma pena fazer gozar do que me falta só com aparência. Quanta futilidade! Não devo viver só para me ver refletido. Pode ser bom para mim que o outro se veja como me vejo. É por isso que gosto de Lula: ele me faz ver para além de mim. Ele joga no meu espelho esse excluído e me faz ver que é bom para mim que ele fique bem também. Lula me faz me ver nesse outro, porque, caso contrário, esse mesmo outro me fará me ver nele – nem que seja na marra. É isso que não quero que aconteça. Por isso, quero Lula presidente – de novo.

Evaristo Magalhães – Psicanalista

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