De uma hora pra outra, naquela cidade, começaram a aparecer pessoas com tôscas tatuagens em suas testas. Vídeos foram se disseminando.
Nesses vídeos, as sessões de tatuagens.
Dois indivíduos mascarados conversavam com suas vítimas:
- E aí, qual vai ser a frase?
- "Sou puta"!
- Então vai ser essa mesmo.
Noutra gravação:
- Escreve o quê aí?
- "Ladrão"!
- OK.
Em comum, as vítimas dos Tatuadores tinham o fato de serem párias da sociedade: ladrõezinhos pé-de-chinelo, prostitutas. Marcados para sempre, para que não houvesse dúvidas sobre seu lugar na sociedade.
- Olha aí, Clarice!
- O quê, Armando?
- Tá aqui no jornal. Os "tatuadores" marcaram mais um. Adoro eles. Fazem o que a policia tinha que fazer. Bandido tem que se ferrar mesmo.
- Ah, não sei não, Mando...
- Como assim, Clá?
- Outro dia saiu que um dos tatuados nem era bandido.
- Se foi tatuado, boa coisa não era.
- A moto era dele mesmo!
- Sei não. Se tatuaram nele, alguma coisa ele devia. Se erraram no lance da moto, acertaram de outra forma. Esses lixos sempre têm alguma coisa pra esconder.
- Credo, Mando...
- Ihh, virou petralha, é?
- Pára, Mando!
- O fato é que o cidadão de bem precisa de mais gente como esses tatuadores! A bandidagem tá solta!
- Não gosto nada desses caras, desses "tatuadores". Quem serão eles, por baixo daquelas máscaras?
- Heróis modestos, isso sim!
( ... )
DING-DONG!
Clarice não atende a porta. Foi ao supermercado.
- Pois não?
- É o senhor Armando?
- Sou eu. Quem é?
- Entrega.
Ele abre a porta.
- Entrega de quem?
Um pano com clorofórmio responde à pergunta de Armando.
Ele acorda noutro lugar, amarrado a uma cadeira.
- Q-q-quem? O quê?
- E aí, Armandão?
- Armando, tudo certo aí, mano?
- Quem são vocês?
- Somos celebridades.
- É. Famosos.
Armando olha em volta. Parece uma espécie de porão de filme americano.
De repente, ele gela.
Ele reconhece alguns instrumentos dispostos numa bancada.
Instrumentos de fazer tatuagem.
- O que vocês querem comigo?
- Você foi sorteado.
- É. Sorteado.
- E premiado.
- P-premiado? Como assim?
- Vai ganhar uma tatuagem grátis.
- Uma não. Várias.
- T-tatuagem? P-p-por quê?
Um dos dois anfitriões começa a explicar:
- Nós prestamos atenção em você. Descobrimos seu "hobby".
- "Hobby"?
- É.
- Meu times de botão?
- HAHAHAHAHAHA! Você é um piadista, Armando.
- Meu hobby são times de botão.
- Que você usa como fachada para se aproximar de jovens, não?
- Q-q-quê?
- Sabemos de tudo, Armando.
- É. Aqueles vídeos com as...como vocês as chamam?
- As "novinhas". E os "novinhos" também né Armando?
- Mas, c-c-como?
- Sua mulher sabe, Armando?
- Desse seu hobby?
- Deixem a Clarice fora disso.
- Ela é uma boa mulher e pessoa, Armando. Ao contrário de você.
- Mas...mas...mas...
- Você vai sumir da vida dela, Armando.
- Mas...mas...
Clarice estranha o sumiço de Armando. Se saiu pra comprar cigarros podia ao menos ter deixado um recado. O celular dele estava desligado.
Clarice decide então olhar os e-mails.
Um dos emails tem Armando como remetente. Chegara à conta de Clarice há uns 5 minutos. Neste email há um anexo. Um vídeo.
- E aí, parceiro? Qual será a frase?
- "Sou pedófilo"!
- Fala mais alto!
- Eu também não escutei.
- "Sou pedófilo"!
- Que mais?
- "Papa anjo"!
- Que mais?
- "Molestador de crianças"!
- Ih, esse vai dar trabalho, parça!
- Mãos à obra então, meu camarada.
Só que os "tatuadores" se enganaram. Erraram de pessoa. Era outro Armando quem eles procuravam.
Fazer o quê?
Todo mundo comete erros.
FIM
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