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Você foi a mulher da minha vida


Se você está lendo esta carta, significa que já estou longe do mundo real.

Afinal, duvido que tenha Uísque, Nutella, Netflix, Kibe com “catupa”, Petit gateau, Rock 'n Roll de responsa e suco de limão de boa qualidade lá no céu. No máximo, um Food-Truck, algumas paletas mexicanas, alguém tentando empurrar assinaturas de revistas e uma lojinha da Avon, essa é a minha aposta. 

Na real, já que este papo tem tudo para ser franco, repito o que lhe dizia quando ainda a gente estava juntos: eu duvido que exista um céu e todo aquele blábláblá em que você afirmava acreditar. Mas não vamos discutir por causa disso, ok? Aliás, mesmo você que queira , já não dá mais para me mandar à puta que me pariu (sua ex-sogra), pois eu morri mesmo, não tô zoando. O gato caiu do telhado e bateu as botas. “Aqui jaz LinuGox, que morreu sem direito à saideira”, estará escrito em minha lápide.

Escrevo do lugar que mais odeio em toda a galáxia (mais até do que o Poupatempo e do aquela loja de sapatos infinita na qual você me fazia esperar milênios pela sua indecisão). Estou aqui por causa de uns piripaques cabulosos que ando tendo no meu estomago. E o doutor, com toda a delicadeza do mundo e usando somente termos técnicos, informou que estou mais fodido do que pepeca de atriz pornô ninfomaníaca. É, tô no colo do palhaço – e, olhando daqui, não me parece o colo do Patati, que é bonzinho e não cheira cocaína como o Bozo.

Aposto que você, neste instante, deve estar morrendo de vontade de jogar a verdade em minha cara, de me dizer: “Bem feito, Huginho. Bem feito, seu pinguço de merda! O que mais poderia acontecer com alguém que leva uma vida desleixada? Hein? 


Mas não vale a pena brigar com um morto, não acha? A menos que eu me torne um walking dead, né? Aí você terá todo o direito de explodir a minha cabeça. Falando em Walking Dead, tô puto: de acordo com o que o médico deu a entender com aquele olhar de “você tá na bosta”, acho que vou partir antes mesmo do final da última temporada da série. Acho que é melhor eu não começar nada muito longo, saca? Só vou terminar o Big Brother e pronto, missão cumprida. Já vi coisa pra caralho nesta vida. Só de Lost e Dexter, eu já devo ter umas mil horas nas costas.

Dá pra acreditar que, pelo andar da carruagem, partirei antes do Keith Richards? Melhor para a humanidade, que perderá bem menos. Ou ousará me dizer que eu, do dia em que saí do útero até hoje, fiz algo memorável? Somente três filhos maravilhosos. Mais nada, essa que é a verdade. Escrevi uns textos legais, eu sei e dei algumas palestras quase aceitáveis. 
Entretanto, de resto, só fiz merda.

Merda atrás de merda. E é por causa de uma das incontáveis cagadas que fiz – a maior delas – que eu resolvi escrever esta carta. Não que o Wi-Fi horrível deste hospital não tenha exercido certa influência sobre a minha decisão; mas escrevo, principalmente, para confessar uma descoberta que fiz há algum tempo e que, infelizmente, nunca tive coragem de lhe admitir: você foi a mulher da minha vida. 

E continuará sendo. A menos que a enfermeira da madrugada apareça de calcinha à la Paola Oliveira, apresente-me novas técnicas orgásmicas e, Depois que eu já tiver virado os olhos, permita que eu coma uma pizza de calabresa e que beba umas doze latinhas de Red Bull. Ou vinte. Não, nem assim… Você foi a mulher da minha vida, sem dúvida alguma. E não digo isso por causa do seu cafuné sonífero, dos beijos tunados com Halls Preto ou das noites infinitas de amor sem preconceitos. Não só por isso, não.

Você foi a mulher de uma vida cheia de mulheres (mais até do que a vida do Martinho da Vila, suponho). E eu, burro como a maioria dos homens, troquei-lhe por uma bunda mais redonda, que logo foi trocada por uma mais redonda ainda, que, acredite se quiser, também foi trocada por uma bunda arredondada; e assim, de nádega em nádega, eu fui me sentindo a cada dia mais vazio, principalmente depois que eu esvaziava o saco e era tomado por uma saudade imensa das conversas filosóficas que tínhamos depois de transar. Lembra-se? 


Ao teu lado eu realmente me senti amado até a tampa, como nem cheguei perto de me sentir ao lado de mais ninguém, das outras por quem nem sequer consegui chorar quando parti. Até nossos barracos eram mais bonitos do que os barracos que tive com elas, juro. E as trepadas que dávamos depois deles, hein? Esplêndidas! Vai negar? Claro que não! 

Aposto que os vizinhos não entendiam tanta paixão ilimitada. E aposto, também, que eles nos invejavam, aquele bando de velhos que vivia a tentar ferrar com as nossas festinhas a dois. Mas eles não conseguiam, nunca. Até diminuíamos o volume do som, mas, minutos depois, a MPB voltava a correr solta. E o amor também. Você me faz uma falta do caralho, é isso que eu quero que você saiba. E fará ainda mais falta quando eu for desta para uma muitíssimo pior.

Afinal, se existir um céu, eu duvido que por lá exista alguém igual a  você !!



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