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As Visões de Mundo de um Andarilho da Arte sem Nome

As Visões de Mundo de um Andarilho da Arte sem Nome


(Art by Valin Mattheis: Facebook Page and Strange Gods Website)

Queime Brilhante e eterno:
O coração da Estrela no coração da terra,
O coração da terra no coração do homem!
(1)

Muitas vezes, enquanto Caminho por algum de meus trajetos comuns ou quando decido subitamente mudar a direção ou experimentar outros caminhos, sempre me pego observando as sutilezas de toda uma poesia aparente na existência. Longe de ser apenas algum tipo de reflexão ou devaneio acerca do tema que começo abordando nesta postagem (mas também sendo tudo isso); também pretendo apontar a importância que enxergo nas diferentes visões de mundo quando falamos de Bruxaria.

A priori, pode parecer que se trata apenas de um ponto de vista (e realmente, no final, poderia mesmo ser apenas isso), mas é sábio notar as sutilezas entre as diferentes visões e de como podemos notar algumas diferenças entre aqueles capazes de “enxergar além” das pessoas que enxergam apenas o que lhes apontam ou que param de ver aquilo que lhes é proibido, seja por uma moral, convenção social ou mesmo através do sacrifício da visão pessoal (subjetiva) em nome de uma realidade geral e mecânica (objetiva) que no final não passa de uma ilusão.

Bruxos enxergam o mundo de forma diferente. Porém, não vivemos apenas no mundo das ideias como a maioria das massas: nós reagimos, interagimos e vivemos de acordo com essas diferentes visões de mundo.

Não vou tentar de forma alguma limitar ou “ditar” como um Caminhante da Arte sem Nome deve ou deveria enxergar o mundo, pois isso não seria apenas impossível, mas também, ridículo.

O cerne da questão seria mais de como as coisas “não acontecem”, e o que normalmente não ocorre é a estagnação ou uma mera opinião comum e massificada de tudo. Normalmente, nosso povo costuma ter ideias próprias e as vezes um tanto não entendidas ou mal interpretadas sobre a realidade em si, o que carrega também o peso de diferentes morais e valores pessoais ou coletivas, sendo esta última algo mais difícil de ocorrer. Até porque, tendemos a ser até mesmo deslocados das massas de ovelhas e, muitas vezes, fazemos isso em silêncio, aprendendo a lidar com o gado, que muitas vezes pensa que somo como eles, sem nem mesmo suspeitar que entre eles ha poderosos Lobos cujo caminho não pode ser previsto.

Muitas vezes pela manhã gosto de sentir o sol na minha pele, no meu rosto. Algumas vezes, sinto como se fosse uma mão quente acalentando meu rosto, como uma bênção do próprio sol. Algumas vezes, em dias de calor, quando sinto uma maravilhosa brisa refrescante, costumo abrir os braços e as mãos, para que o vento passe peloss meus braços e entre meus dedos. Sinto o vento correndo e brincando, acariciando meus cabelos. Na chuva em dias quentes, levanto meu rosto para o céu e sinto a chuva banhando meu rosto, minha barba, meus cabelos e também abro meus braços e sinto os pingos de água banhando meu corpo.

Da mesma forma que também sinto o sol destruidor do meio-dia queimando minha pele e minha face e colocando fogo nos matagais secos, como se o sol demonstrasse seu poder queimando tudo o que toca, até o ar. Da mesma forma, o vento frio como a morte corta minha pele, correndo como pequenas lâminas de gelo ou ainda a tempestade que me traz uma sensação de selvageria, me fazendo urrar e de sentir uma total interação com sua fúria indomável e com seus relâmpagos temerários e incontroláveis! Uma pura expressão de seu poder!

É um fato que vejo essas manifestações como seres e que não procuro muitas explicações técnicas sobre isso. Sei que o vento são átomos em movimento, mas também sei que isso não faz sentido na minha realidade ou que seja o suficiente. Até porque, nós também seríamos um aglomerado de átomos em movimento. Vejo os ventos como seres, sem me limitar a definir de onde eles vem, como funcionam ou o que preferem. Isso não faz sentido algum. Da mesma forma que vejo vida em toda a existência e entendo minhas interações com essas forças, sem precisar ficar definindo cada uma delas como se tudo fosse parte de um grande catálogo ou definições contínuas como um livro de biologia onde pegamos cada animal, planta ou ser e separamos suas características em reinos, famílias, ordem, espécies, raças, etc. Não, o mundo é grande demais para coisas tão limitadas. Talvez seja por isso que pessoas limitadas me fazem pensar em como elas conseguem ser do jeito que são.

Já devo ter citado algumas vezes o Álvismal(2), onde nos é mostrado várias formas de enxergarmos as coisas do mundo com os olhos dos Deuses e de outros seres. Nessa balada usa-se da poesia para explicar a existência das coisas segundo as visões de outros seres e Deuses. De como nossa visão literal é limitada e apenas nos aponta para algo de forma  simples. Porém, quando olho para algo simples como uma árvore, vejo reverência, vejo, dependendo, algo mais antigo do que eu. Um espírito ou mais naquela árvore e ao seu redor. Vejo um mundo de insetos, pássaros, lagartos e outros seres que podem viver ou visitar aquela árvore. Vejo as sombras que fazem desenhos com a luz do sol ou ainda a dança que ela faz com suas folhas juntamente com os Silfos que correm por sua copa. Ou ainda as folhas dos Ipês caindo e girando como bailarinas em pleno ar até tocar o chão. Ha muito mais em uma árvore do que apenas um objeto ou algo corriqueiro.

Além disso, vejo beleza e poesia em todos os lugares, incluindo na dor, no sofrimento, no sangue, na morte, nos ossos, nos corpos de animais ou pessoas.

Afinal, entender a realidade não é entender apenas aquilo que lhe faz bem ou que lhe traga apenas flores ou o calor de uma lareira. A morte, a doença, a dor e tudo  o mais que existe faz parte da realidade e assim como os espíritos das árvores, também temos os espíritos de outros seres não tão bons ou que ainda nem mesmo gostam de pessoas.


(Art by Valin Mattheis: Facebook Page and Strange Gods Website)

Vejo tudo como relações pessoais: tem gente que gosta de mim, tem gente que não gosta. Prefiro manter boa vizinhança, mas também deixo claro meu território quando se faz necessário. E isso é tanto com vivos quanto com mortos e com tudo entre nós.

Muitas vezes observo as pessoas mundanas e de como suas opiniões são iguais…mecânicas, até mesmo previsíveis e, quando surpreendem, logo descobre-se que ha algo limitante por detrás, que normalmente nem mesmo era ideia dela. Penso em como alguém pode existir ou sub-existir de tal forma. Seria a ignorância uma bênção? as vezes pondero sobre isso. Fazer parte da maioria em todos os aspectos de uma só vez (ou da maioria dos aspectos) deve realmente ser confortante? E de tantas pessoas com discursos para se autoproclamarem diferentes, mas no dia-a-dia agir da mesma forma que qualquer outra pessoa? As pessoas se preocupam demais em ter uma opinião sobre todos os assuntos e de serem obrigadas a falarem de coisas que estão em alta, mesmo que não saibam de nada sobre tal assunto (o que é bem comum).

Acredito que na bruxaria em si, saber olhar, ouvir e sentir fazem total diferença para aqueles que pretendem “Andar o Caminho”. As mudanças tendem a ser dolorosas e difíceis, mas a recompensa realmente transformadora para aqueles que tenham olhos para ver. Mudar nunca é fácil. Nunca. E é um processo complicado, principalmente pela resistência natural que apresentamos, nos agarrando a velhos hábitos e manias, velhas visões do mundo e de nós mesmos.

Acho que nunca vi um bruxo de verdade que enxergasse ou vivesse da mesma forma que qualquer pessoa mundana no seu dia-a-dia. Talvez de longe se misturasse as ovelhas (alguns até mesmo pudessem tentar ou se dizer comuns) mas de perto ou com 5 minutos de conversa, já se notaria completamente a diferença. Talvez possa estar errado, afinal, minha experiência não define coisa alguma nos Caminhos de outrem. Mas espero que possa ter algo que contribua – mesmo que seja numa postagem de meras reflexões e ideias soltas, de quem já tem um certo tempo de Caminhada e que já viu algumas coisas nas paisagens, pessoas, visitas e alguns outros lugares mais afastados – e perto – inclusive em si mesmo.

O mais interessante é que eu não sei exatamente como não ser assim. Como não fico levando tudo ao plano das definições racionais e sempre evito de ficar pensando demais sobre algumas coisas que sempre estão acontecendo, como certas visões, alguns sentidos como temperaturas, tato e até mesmo vozes, isso acaba sendo parte da minha realidade. Não descarto cem por cento a possibilidade de ser louco – afinal, o que é um louco senão alguém que não é entendido pelos outros, tornando-se tão diferente que incomoda? uma pessoa doente não é apenas alguém que possua alguma doença, mas sim, alguém que evidentemente incomoda o outro. Alguém que fala sozinho incomoda os outros, mas se essa pessoa usar um celular, mesmo que desligado, não vai mais incomodar ninguém, pois as pessoas irão deduzir algo que consideram aceitável. A pessoa continua falando sozinha, só que não é mais notada.

As coisas são como elas são. Claro que podemos mudar as coisas – as vezes aquilo que desejamos não possui o efeito que esperávamos (E é aí que entra o Diabo, no centro da encruzilhada, girando a roda). Nas primeiras vezes, nem mesmo entendemos – ou aceitamos – mas depois, aprendemos a observar e a aprender mais sobre o movimento das coisas e a lidar com seus resultados, influenciando e tirando proveito de tal aprendizado, de tais experiências. Muitas vezes fazemos o papel do Diabo de girar a roda com nossas próprias mãos e até mesmo, algumas vezes, de fazermos outros girarem a roda sem nem mesmo saberem o que estão fazendo.


(Arte de Timo Ketola, retirado do livro Hands of Aphostasy, Tree Hand Press)

Da mesma forma que enxergo o mundo assim, não seria possível diferenciar o que a maioria chama de “mundo físico” e “mundo espiritual”, pois não vejo-os como coisas separadas… Não tenho “religião” porque não preciso me “religar” a alguma coisa… a sensação é que nunca estive desligado de nada e enxergo as relações de medo e de submissão dos mundanos como algo limitante e até mesmo vergonhoso. Não pelas crenças em si, mas pelas atitudes, normalmente hipócritas ao mesmo tempo que temerosas. Vai saber se ser ignorante realmente seja uma bênção… afinal, bênçãos podem ser maldições e maldições podem ser bênçãos, como já diziam os mais antigos do nosso povo.

Além disso, sempre avanço e penso em questões como a do “Eterno Agora”, onde o presente torna-se uma ilusão. E é nesse “centro” o “presente”, que talvez exista aquilo que é Eterno: um momento que não pode ser percebido apenas com a racionalização.

Outras questões tendem a ser a definição da contagem do tempo: anos, meses, dias, horas, minutos, segundos…existe? é constante? existe somente no nosso planeta? e as questões mais e mais longínquas surgem cada vez mais. Dedico algum tempo a tais questões, mas não as deixo tomarem conta de todo o meu tempo.

Penso nos Deuses como seres existentes ao invés da ideia gnóstica de que são “forças” ou “uma força” sem forma que se expressa em formas humanas. Ou ainda de que são meras analogias para forças naturais ou ainda expressões de nossa própria psiquê. Não, vejo-os como seres e tento tratá-los como tal. Não me preocupo, como citei, em limitar ou montar um “esquema cósmico” onde ‘esse’ ou ‘aquele’ “possa” existir – eliminando a possibilidade “do outro”, fora do contexto dos primeiros, de existir. Isso não é problema meu, pois apenas lido com o que tenho que lidar e ficar considerando ou desconsiderando a possibilidade disso ou daquilo de existir não faz minha cabeça. Aliás, prefiro sempre deixar a mente aberta, inclusive, para possibilidades absurdas ou improváveis, pois tenho que lidar com aquilo que se apresenta ou com o que descubro e, mesmo assim, sempre mantenho uma parte de mim mesmo vigilante com aquilo que vejo e escuto, pois nada é absoluto e eu posso me enganar.

É como fazer um feitiço e ter alguém preocupado no mecanismo que faz aquilo funcionar. Quais as forças do universo que movem? sou eu que influencio? outros seres? espíritos? magnetismo? sugestão? no final apenas olho e falo “funciona? então ta bom”. ponto. Não me importa se o Demônio invocado seja projeção psíquica sua ou se de fato é um Demônio, Daemon, entidade, ser…nem me importa de onde ele veio, desde que a relação seja boa para ambos e que se consiga o que quer. Muito simples. É assim que tenho feito e é assim que tem dado certo.

Com os anos as coisas tendem a ficar mais simples e nossas indagações e reflexões tornam-se mais sérias, mais profundas e as preocupações bobas deixamos pra lá, porque sabemos que no final não fazem diferença realmente.

Talvez se trate exatamente disso: saber o que é importante pra você – de verdade.

Pelo menos posso falar por mim – e mesmo assim a Caminhada sempre continua.

Esta postagem não tem a pretensão de ser um ‘guia’ ou ainda de conter respostas, mas sim, de ajudar a outros Peregrinos e Andarilhos a se perguntarem mais e quem sabe a refletirem sobre suas próprias questões e realidades.

O que realmente importa para você? observe sua existência e seus planos e pergunte-se em seu âmago o que realmente importa para você. Depois tome coragem e vá atrás, como o primeiro Arcano do Tarot – inocente, sem saber dos perigos e nada mais do caminho a tua frente, sem nem mesmo saber, que no final, alcançará o Mundo e, quando isso ocorrer, se ver novamente no mesmo lugar onde começou: no centro da Encruzilhada, onde todos os Caminhos começam e onde todos terminam, onde jaz a Chama das Eras, a qual brilha imponente entre os sagrados chifres de Azazel.

E seremos como nossos Ancestrais, os Deuses, fazendo o Caminho do Retorno, da semente contra o grão.

E seremos como Reis e Senhores de nós mesmos, para daí sermos Deuses e Senhores de todos os Mundos.

Bênçãos e Maldições.
HDHM!
FFF


(Art by Valin Mattheis: Facebook Page and Strange Gods Website)

“Pois estamos unidos como a carne ao sangue,
Como o sangue ao espírito,
Como o Espírito aos Deuses.”
(3)

Notas:

(1) trecho de uma versão do “Exorcismo do Fogo” por Andrew Chumbley, do “Azoëtia – A Grimoire of the Sabbatic Craft”, pág 31; Xoanon, 2002;

(2) Alvismál, ou a balada de Alvis, é um poema sobre o Anão Alvis que vai a casa do Deus Thor para tentar se casar com sua filha e pelo próprio Deus do Trovão tem seus conhecimentos testados. O Alvismál pertence às Eddas;

(3) Trecho de um ritual próprio, para alimentar um Familiar.




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