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Uber precisa se comportar mais como cidadã e menos como start-up


Rodrigo Arévalo, o executivo da Uber – Marcello Corrêa / Agência O Globo

NOVA YORK – Aos 31 anos, o mexicano Rodrigo Arévalo foi o primeiro funcionário da Uber no seu país natal, assim que a empresa se instalou naquele mercado, em 2013. Hoje, é diretor-geral regional para América Latina da companhia. Arévalo faz parte da geração que cresceu rapidamente dentro da empresa e avalia que a turbulência que levou a companhia a trocar de comando recentemente está relacionada ao crescimento rápido. Para ele, a companhia precisa se comportar mais como cidadã e menos como start-up. O executivo conversou com o GLOBO durante o evento Futuro da Mobilidade, promovido em Nova York para jornalistas da América Latina. Sobre o Brasil, afirmou que vê potencial para que a empresa continue a ser uma espécie de rede de proteção em uma economia que ainda se recupera da recessão e garantiu que o projeto de carros autônomos, uma das principais apostas da empresa, hoje em teste nos EUA, certamente virá ao país, embora não saiba precisar uma data. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

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A Uber está passando por uma mudança de cultura da empresa, com a recente mudança do CEO, em um período de turbulência. Como isso está se refletindo na sua área?

Acho que é um ponto de inflexão. Muitas coisas que nos trouxeram aqui foram boas, mas houve erros ao longo do caminho. Nos tornar o aliado que queremos ser das cidades tem menos a ver com ser startups e mais a ver com ser cidadãos responsáveis. Acredito que essa abordagem está se materializando, a mudança está ocorrendo há alguns meses. Diria anos, mas acelerou nos últimos meses. Acho que é um ponto de inflexão no sentido do que Precisamos desenvolver essa responsabilidade. Nesse sentido, estamos muito empolgados com o futuro. Somos muito gratos ao Travis (Kalanick, fundador e ex-diretor-executivo da Uber), porque ele nos trouxe aqui, lá da época que éramos uma startup lutando por nossas vidas e tentando sobreviver. Agora, somos cidadãos crescidos e temos uma grande responsabilidade. Milhões de pessoas confiam em nós todo dia para se mover pelas cidades. Percebemos essa responsabilidade e estamos agindo para ser cidadãos aliados dos governos. Também precisamos nos mantermos verdadeiros sobre quem nós somos, como inovadores, e tentar nos manter em princípios, como promover desenvolvimento econômico, concorrência e proteger direitos dos cidadãos e consumidores. Estamos muito empolgados com o futuro com Dara (Khosrowshahi, novo diretor-executivo). Estamos animados com as coisas que vamos aprender.

A questão sobre bullying e sexismo, alguns dos pontos que levaram a essa mudança de cultura, foi pacificada?

Absolutamente. Acho que o maior problema que enfrentamos é que crescemos muito rápido. Sabe, eu tenho 31 anos de idade! (risos). Quando você pensa sobre o tamanho do negócio pelo qual sou responsável e que não existia há pouco mais de quatro anos… De alguma forma, precisamos desenvolver aquele cabelo branco. O fato de que não tivemos tempo ou ferramentas para treinar nossas pessoas para gerenciar nossas equipes, 60% ou 70% dos nossos novos gerentes se tornaram gerentes pela primeira vez na Uber. Quando não temos as ferramentas corretas funcionando, erros acontecem. Sendo franco, fico triste pelo fato de que não conseguimos fornecer, no tempo certo, as ferramentas para nossas pessoas que estavam trabalhando tão fortemente para cumprirem suas missões, que estavam tentando fazer seu trabalho. Nesse meio tempo, erros acontecem. Começando por mim. Tenho muito para aprender e estou animado em desenvolver esses cabelos brancos. Aprendemos novas coisas todos os dias, sobre como sermos profissionais, como sermos melhores gerentes, como sermos melhores humanos, até. Estou animado que essa mudança está acontecendo. Quando somos jovens, às vezes você não sabe, e erros acontecem.

Você já se encontrou com Dara? Há alguma recomendação específica dele para sua equipe?

Sim. Dara está animado com o Pool (serviço de corridas compartilhadas), por exemplo. Muito animado com negócios como o Eats (serviço de entrega de comida). Animado com a ideia de que nossa proposta de valor atinga 100 milhões de brasileiros. Hoje, atingimos menos de 20 milhões, o que é 10% da população. Queremos mudar nossos produtos para que possamos servir 100 milhões de brasileiros.

O Brasil está deixando para trás uma grande recessão. Que oportunidades vê para a empresa, neste momento da economia?

Acho que a oportunidade vem em várias maneiras. Primeiro, se formos capazes de minimizar o impacto da recessão e continuarmos a ser essa rede de proteção para a recessão. Se você perdeu seu emprego, e pode gerar uma oportunidade econômica para prover o sustento para sua família via Uber, podemos ser esses aliados. Acho que esta é uma posição fantástica para se estar. Agora, em relação às oportunidades, acho que há muitas atividades econômicas que continuam a ocorrer. Quando pessoas querem se mover pela cidade, pedir uma comida, se pudermos estar lá, acho que é fantástico. A parte mais importante é podermos prover uma oportunidade digna para qualquer um que queira ganhar um sustento honesto. Se formos esse ator na sociedade, com ou sem recessão, estaremos mais que animados em assumir esta posição.

Quais são os desafios em expandir em um país continental como o Brasil?

O desafio é esse: é um país grande. Com tecnologia, é mais fácil conseguirmos operar. O fato de conseguirmos nos comunicar via centros de suporte em São Paulo ajuda muito. Isto posto, precisamos estar perto de nossas operações. Precisamos conseguir sentir o cheiro da terra, sentir o pulso da cidade, por isso temos equipes locais, que passam um tempo considerável nas cidades em que operamos. Por isso temos centros de suporte aos nossos parceiros (motoristas). Sabemos como interação pessoal é importante.

Uma das coisas que fez o sucesso da Uber no Brasil são os preços mais baixos. É possível manter preços mais baixos no longo prazo e manter qualidade?

Há dois tipos de empresas, as que crescem os preços e as que querem ter preços mais baixos. Queremos estar no segundo grupo. Queremos ser uma empresa que reduz constantemente seus preços. E é aí que uma das belezas da tecnologia aparece. Vamos chegar a um limite no modelo atual. Mas o que acontece é que, em vez de pensar em vender tempo do carro propriamente dito, pensaremos em um mercado em tempo real de assentos na cidade. Assentos disponíveis e assentos ocupados. Você, na verdade, pagará menos como indivíduo, mas terá a possibilidade de ter o motorista rodando mais. Assim, a quantidade de carros nas ruas diminui, transporta-se mais pessoas em menos carros, aumenta-se ou se mantém os ganhos para motoristas, mas se reduz os preços para os passageiros, ao mesmo tempo. (Melhorar a qualidade) não é apenas algo que podemos alcançar sozinhos. Por isso, pedimos à comunidade o feedback. Vemos que nos últimos tempos as pessoas não avaliam o Uber tão frequentemente como antigamente. Se tiver a chance de fazer um pedido para os passageiros é sempre avaliar o Uber, porque, de outra forma, se não tivermos esse feedback, é mais difícil. O sistema de cinco estrelas parece um jogo, mas é fundamental. É assim que conseguiremos fazer esse ciclo virtuoso funcionar.

Uma das principais reclamações de motoristas é em relação aos ganhos, pelo menos no Rio. Há algum plano para aumentar os ganhos para eles?

Acho que precisamos ter uma abordagem caso a caso, dependendo da cidade. É claro que o Rio é uma das cidades mais importantes. Ouvimos o que motoristas querem e com o que se importam. Não basta subir os preços, porque quando se sobe os preços, os ganhos na verdade vão cair, em vez de subirem. Por isso temos nosso algoritmo de preços dinâmicos, quando há muita demanda, os preços sobem. Há muito que precisamos fazer. Também podemos fornecer informações para os motoristas sobre os potenciais de ganho. Se você quer ganhar mais, podemos dar mais informações sobre quando e onde dirigir. Se também podemos dar mais informações para garantir mais estabilidade, é também um grande progresso. Eu sei que eles também querem ganhar mais, mas se eles podem ter uma certeza de que se eles dirigirem por um determinado tempo, em determinados períodos, pode maximizar seus ganhos, acho que isso se torna muito interessante. Então, prover mais informações, melhores guias e melhores ferramentas para maximizar os ganhos e garantir que eles tenham um nível alto de certeza de quanto ganharão é algo que podemos atualmente fazer com as informações que temos e estamos trabalhando para fazer isso uma realidade para nossos parceiros.

Como avalia os episódios de violência nos últimos meses no Brasil, especialmente no Rio e em relação à segurança de motoristas e passageiros?

É um problema muito preocupante. Na América Latina, vivemos em 40 das 50 cidades mais perigosas do mundo. Essa é nossa realidade. Precisamos continuar a desenvolver ferramentas, tecnologias e produtos que vão aumentar a segurança para nossos parceiros. Sabemos que quando você está na rua, não pode controlar tudo que acontece lá fora. Mas podemos fazer nosso dever de casa. Trabalhamos em coisa para fazer a plataforma mais segura, mas que acesse o máximo de pessoas possível. Precisamos ter o equilíbrio entre acesso (à plataforma) e segurança. Nosso compromisso é que se a cidade está insegura, prometemos ser o lugar mais seguro da cidade. Uma das coisas é a checagem de CPF (dos parceiros), que não é a única ou melhor coisa que precisamos fazer. Precisamos trabalhar em muitas tecnologias.

Quais são as previsões para testes de carros autônomos no Brasil?

Sou otimista. Sempre defenderei levar a experiência autônoma para a América Latina e especialmente para o Brasil. Mas precisamos de alguns fundamentos. Vamos começar a mapear o país. O mapeamento é uma fundação, mas não é tudo. Precisamos ter certeza de que a tecnologia funciona em cidades com ambiente mais controlado. E depois começar a torná-los mais espertos. Como otimista, acredito que a experiência autônoma virá muito mais cedo do que se pensa. Não sei quão cedo, mas considerando que o Brasil é o país mais importante em termos de volume na América Latina, e um dos países mais importantes globalmente, terá o nível mais alto de prioridade para testarmos modelos autônomos. Posso garantir isso.

Como vê o projeto de lei que tramita no Senado brasileiro, a respeito dos aplicativos de transporte?

Acreditamos que essa é uma situação que envolve o setor como um todo, por isso fizemos uma parceria com nossos concorrentes, especificamente Cabify e 99, para criar uma coalisão unida, digamos assim. Porque esse é um problema do setor. Acreditamos que, se quisermos criar uma regulação em nível federal, precisa haver um diálogo mais aberto. Cada ponto de vista precisa ser ouvido. E precisamos ouvir todas as partes da sociedade. Somos sempre a favor de regulação, mas queremos uma regulação com bom senso, que garanta a concorrência econômica, aumente o desenvolvimento econômico, como resultado dessa concorrência, e proteja os direitos de cidadãos e consumidores. Se um desses três princípios não é alcançado ou é violado, acho que provavelmente não é a melhor abordagem, e deveríamos estar conduzindo uma conversa mais profunda, para alcançar esses princípios. De outra maneira, não estaremos protegendo os direitos dos cidadãos, estaremos falando sobre proteger alguns interesses em particular, e isso provavelmente não é o melhor para ninguém.

Acha que uma lei federal é o melhor caminho para pacificar a questão, ou seria melhor tratar na esfera municipal?

Temos que trabalhar com os governos, seja no nível municipal, no estadual ou no federal. Precisamos ser parceiros deles. Parceiros no sentido de expor um ponto de vista, criar e nutrir um diálogo. Se alcançarmos isso num nível federal, é uma notícia fantástica. Se for no nível estadual, é fantástico. Se for no municipal, será um trabalho bem intenso. Mas o esforço para trabalhar em parceria com os governos está encaminhado, já há alguns anos. Não temos preferência, contanto que os formuladores de políticas públicas queiram trabalhar conosco.

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