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Agostinho da Silva: " entregarmo-nos depois todos à divina ocupação de reflectir e discutir"

"[aqueles] que sonham com o século em que seja possível, feito rápidamente, em parte mínima do dia, o Trabalho material que houver a realizar, entregarmo-nos depois todos à divina ocupação de reflectir e discutir, de passar em revista as doutrinas dos sábios e os interesses da cidade, de inventar, destruir e recompor o mundo dos sentidos e o mais puro universo das ideias. A fadiga que esmaga um corpo depois de oito ou dez horas em frente de um volante ou de um dia inteiro na faina do campo é um crime contra o Jeová que nos criou à sua imagem, um sacrilégio contra a partícula de fogo eterno que palpita por favor dos deuses em cada um de nós. O trabalho não é virtude, nem honra; antes veria nele necessidade e condenação; é, como se sabe, consequência do pecado original. A reconquista do Éden comportaria para o homem a libertação do trabalho, lavá-lo-ia dessa mancha de animal doméstico sob o jugo, havia de o restituir ao que é seu essencial carácter: o ser pensante."

Agostinho da Silva: Ir à Índia sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos


Eis aqui espelhada o pensamento polémico de Agostinho no seu melhor... Fracturante e enviesado às grandes correntes e ao Pensamento Único. Agostinho não pára perante nenhuma verdade assumida "universalmente".... Para o professor, o Trabalho não é fim-em-si da vida humana, nem sequer o Lucro, o motor principal da Economia, mas o Homem...

É certo que a espectacular mecanização crescente da produção industrial e agrícola tem aproximado de nós o Sonho agostiniano de uma "sociedade do tempo livre", mas tem também afastado muitos de nós do mercado de trabalho... Agostinho preferiria que essas pessoas não fossem dispensadas, mas que vissem o seu horário de trabalho reduzido para a mesma proporção do tempo recuperado pela mecanização e informatização das actividades económicas. Mas no mundo perverso em que vivemos, onde o Lucro e o "valor accionista" prevalecem sobre tudo, mesmo sobre o Homem ele próprio, em vez de ganhos de qualidade de Vida, vemos perdas, e perdas avassaladoras, que não raro, levam os mais frágeis até ao desespero do suicídio...

O sistema económico devia ser orientado para tornar cada um de nós proprietários em parte diversa da empresa onde labora. O cooperativismo de António Sérgio (que Agostinho conheceu pessoalmente na Seara Nova), pode e deve ser ressuscitado... O empregado-patrão da Cooperativa pode assumir assim o seu próprio destino nas suas próprias mãos, realizando o "Homem Pensador", sonhado por Agostinho, que obtenha finalmente tempo para pensar em Si, e na Sociedade que o rodeia, não se deixando mais enredar em popularismos e demagogias e tornando cada um de nós num filósofo ateniense que discursa na Ágora...


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