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AIA 19 - Pistas

A INICIAÇÃO DE AGATHA
Pistas

* os trechos entre “[ ]” (colchetes) são reproduções de diálogos em tcheco

A transa nem estava tão ruim e a garota também não é a das melhores visualmente, mas ao menos não tinha frescuras, apesar da indiferença com que ele era tratado enquanto metia nela de quatro. Mas, também, que tipo de prostituta ele esperava contratar na Liberdade por cinquenta Reais?

Ele, talvez, ignorasse todos estes constrangedores detalhes se não fosse o forte odor de mofo impregnado naquele claustrofóbico e fuleiro quarto do decadente hotel que, mesmo se a janela estivesse aberta, o sol provavelmente só entraria por quinze minutos diários de tão próximo que está do prédio a sua frente. E o perfume barato que ela usava ajudou a piorar o cheiro daquele ambiente, mas ele precisava ter voltado ali. Para esta mesma porcaria de estabelecimento para encontrar aquela garota novamente.

- Sabrina? – A atendente, na recepção, se perguntou tentando recordar esse nome no meio de tantos outros de mulheres anônimas que entram e saem dessa profissão.

Claro que este não era o nome verdadeiro da mulher, mas como ele poderia saber que depois daquele dia iria precisar da sua real identidade para encontrá-la futuramente?

- Sim. Branca, cabelos negros compridos, magra, um metro e setenta e poucos...

- Cara, não sei! Hoje não tem nenhuma aqui com esse nome.

Normalmente ele sairia e organizaria as poucas pistas que ela deixou para encontrar seu atual paradeiro.

- E aí? Já escolheu? – Perguntou mascando um chiclete que parecia estar em sua boca desde a semana passada.

A recepcionista tentou acelerar o processo porque, para as garotas que estavam ali, tempo é dinheiro. Mesmo que àquela hora da manhã o movimento era quase inexistente.

Olhou para a saída por onde a claridade do dia era a única iluminação daquela sala que mantinha acesa um ineficiente filamento da lâmpada incandescente. Observou a calçada movimentada do centro da cidade enquanto um cão vira lata magricela, o qual era possível contar todas as Suas treze costelas, e maltratado cheirou o batente da porta com seu cumprido focinho. Depois de analisar o local depositou sua urina fétida para depois se deitar no canto oposto.

- Sim, a Julia.

- Ok, pagamento em dinheiro, adiantado – avisou fazendo sinal para a Julia pegar suas coisas.

O problema é que desde a última vez que ele esteve aqui para se averiguar um caso e aproveitar para se distrair, beber algo, e comer uma, transou com essa Sabrina e então tudo ficou diferente. É como se ela fosse um imã para todos os seus pensamentos. Seus desejos ficaram incontroláveis e a vontade de comê-la novamente foi crescendo. Somando-se a tudo isso começou a ver, de vez em quando, luzes em torno das pessoas, ajudando a ficar mais confuso.

Agora estava ali, tentando aliviar sua mente com a Julia, que nem de perto se aproximava fisicamente da misteriosa Sabrina, mas em sua mente, movida a base de teorias, lógicas e suposições devido a sua profissão, pensava se isso tudo que estava acontecendo com ele não seria só coisa da sua cabeça ou então sentiria a mesma coisa com qualquer outra mulher daquela casa.

Neste momento ouviu seu celular tocar abafado dentro do bolso da jaqueta jogada junto com suas roupas no canto da cama, colado a manchada parede às suas costas para proteger o acesso da sua ponto quarenta.

Virou-se sem tirar o pau de dentro dela tentando alcançar o aparelho antes que parasse de tocar.

- Deu o seu tempo – disse Julia após ouvir as batidas na porta avisando que sua trepada acabou.

“Caralho! Voaram esses trinta minutos.”

Nem gozou. Com a cabeça longe pensando nessa Sabrina, a foda acabou ficando em segundo plano. Largou de lado aquela mulher e se sentou na borda da cama com o telefone na mão.

“Salgado” mostrava na tela.

- Oi – atendeu.

“Cadê você? Liguei no D.P. e disseram que você saiu.” – Dizia uma voz feminina do outro lado.

- Vai dobrar? – Julia, já sentada na cama, perguntou a ele.

Fez um sinal com a mão para que aguardasse.

- Sim, dei uma saída pra comer.

“Comer? Já acabou? Estou indo para Interlagos. Quero que me encontre lá.”

- Interlagos? Por que tão longe?

“Um homicídio. ’Os ímpios serão exterminados da terra’ te diz alguma coisa?”

“Sabrina!” – pensou imediatamente.

- Sim, claro! Estou a caminho! Me passa o endereço por mensagem.

Desligou o telefone.

- Pode se vestir! Não vou ficar – avisou enquanto arrancava a camisinha grudada no seu pau e puxando suas roupas para se vestir rapidamente – Ei! Você conhece uma Sabrina que trabalhou aqui?

continua...


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