(Imagem: Pinterest)
Sob o comando da mídia, cujo poder de sedução já foi irresistível, parte do país ensaia gritos de emoção com a bolinha que rola nos gramados russos. A outra parte tenta encarar a vida e seus problemas, criados e recriados como o trabalho de Sísifo, o mitológico grego condenado a empurrar montanha acima uma gigantesca pedra de mármore, que voltava ao ponto de partida sempre que ele se aproximava do cume.
Related Articles
Enquanto isto, a malemolência encobre o oportunismo espertalhão que reajusta tabelas de preços e redimensiona custos. Como, por exemplo, os de planos de saúde, cujos usuários, ainda resistentes e de fôlego curto, se perguntam até quando líderes e governantes dispensarão aos cidadãos um tratamento de quinta categoria.
Na fila do banco (sim, porque ainda existem longas filas nas agências, apesar da tecnologia), a queixa é recorrente quanto ao que se colhe após uma vida de trabalho digno e honesto, pagando impostos e regrando miudezas. No caso da saúde, sobra indignação e faltam palavras para defini-la. Mantendo sob controle os canais certos do Poder, vigorosíssimos lobbies defendem interesses que, certamente, não são os da sociedade.
Dividida entre o excesso de chamadas para a programação da emissora, e a modulação da voz que busca emoção desproporcional ao que se vê em campo, a narração esportiva grita, mas não abafa o murmúrio impaciente que ultrapassa as filas nos bancos. Ele também está nos supermercados, nos postos de atendimento do serviço público (sobretudo nos da Saúde), e em quem mais ainda se sinta encorajado a assistir um "noticiário" de tevê.
Com plenários vazios, e graças a mais um providencial período de recesso, Brasília tem visíveis os caminhos que levam ao aeroporto da Capital, em pressas e urgências para que não se perca um voo. Quanto à realidade do país, ela parece apenas suposta, a julgar por discursos pobres de conteúdo e de gramática, por onde seus autores tentam driblar ações efetivas para reformar o jeito resistente e malcheiroso de se fazer política, de criar e aumentar impostos. De arquitetar e instituir privilégios, favorecendo, inclusive, o prende-e-solta de criminosos do colarinho branco.
Bem mais que gols, além do duvidoso glamour de jogadores que se fartam na alegria do mercado publicitário, o país precisa é de juízo e credibilidade de suas lideranças – tantas vezes grotescas e cambaleantes como o nosso futebol.
Cada vez mais amparado pelo estojo de Primeiros Socorros da mídia, recheado de estatísticas.