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É na cebola...

(Imagem: Pinterest)


Compadre Herval Lourenço andava com sua perrenguice sublinhada por um escorrimento de nariz interminável, uma bambeza de corpo, uns olhos lacrimejantes...

- É gripe, seu Lenço. Melhor jeito de acabar com ela é na Cebola – diagnosticava a vizinha de três décadas. Que, aliás, já observara consigo mesma que ninguém poderia ter apelido mais adequado, já que o coitado do Herval Lourenço era visto quase sempre com um lenço nas mãos.

Anotada a receita, o homem aprumou-se na base da valentia e partiu para a aquisição de belíssima cebola roxa, cujo brilho provocou-lhe leve suspeita: e se aquilo fosse tinta? Raspou de leve com a unha a casca da cebola e viu que era qualidade mesmo. Bulbo de erva liliácea dos melhores.

“Descasque a cebola e deixe-a sobre a mesinha de cabeceira à noite, quando for deitar-se” – ditavam as instruções da vizinha e que Mariléia leu em voz alta, de pé ao lado da cama onde o marido aguardava com ansiedade a 'medicação'. O passo a passo indicava que se deveria cortar duas rodelas da cebola, colocá-las na curva dos pés do doente e, em seguida, calçar-lhe as meias.

Executadas as recomendações da vizinha, seu Lenço levantou-se, mas não conseguiu caminhar: as rodelas de cebola na sola dos pés pareciam dois paralelepípedos, tal o desconforto que provocavam. Era impossível dar mais que três passos sem curvar-se em dor, ardência, ou perder o equilíbrio. O jeito foi ficar na cama e tentar dormir mais cedo.

A receita da vizinha seguiria se desdobrando em surpresas: esmagadas nos pés do compadre Lenço, o caldo das rodelas de cebola escorria farto para o colchão, o que levou Mariléia a enrolar os pés do marido numa toalha.

- Ô, Léia, esse troço tá queimando meus pés... – reclamou o compadre no meio da noite.

Retiradas a toalha, as meias e as rodelas de cebola, permaneceram com o doente os olhos lacrimejantes, a secreção nasal e o mesmo desconforto. Já a mulher, preocupava-se agora em eliminar o cheiro forte da toalha, das meias e da casa.

Quando amanheceu o dia, providenciou-se um molho de 12 horas em água quente e sabão em pó para as meias – preparado eficaz e que Mariléia decidiu aproveitar lavando nele o pano de chão, que a catinga de cebola inutilizaria ao final do processo.

Mariléia ainda pensava numa saída para o cheiro do colchão, quando a vizinha telefonou para dizer que a receita daria resultado ainda mais porreta se, junto às rodelas de cebola, fosse acrescentada uma pitadinha de pó de um inalcançável cravo da Manchúria.


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