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E chove…


Farto desta pressão ofegante, visto a minha gabardina preta, calço os meus sapatos e como está um dia cinzento levo o meu guarda-Chuva Azul Escuro que combina exatamente com a cor do céu. Saio de casa, vou pelo habitual caminho, passear sem destino… Passeio sem destino, como a minha vida avança sem o próprio… O meu guarda chuva acompanha o meu ritmo no tic-tac hipnotizante que me deixa completamente ensonado,
Mais tarde, começam a cair as primeiras gotas de chuva. As primeiras sempre mais pequenas caindo a pouco e pouco a pequena velocidade. À medida que o céu vai escurecendo começa a chover abundantemente… Como é possível o nosso choro ser tão parecido à chuva? Ainda dizem que a natureza não influencia o homem. Influencia e muito. Todo este cinzento que me rodeia, leva-me sobretudo a refletir sobre todas as minhas preocupações, pensamentos negativos…
Chove cada vez com mais força. Já com o meu chapéu aberto, e ainda bem que o trouxe, sopra um vento cada vez mais agressivo com uma força pujante que quase me derruba e que me faz ter uma força gigante para segurar o meu chapéu. Pena não ter esta força para superar outras coisas…
Entretanto, vou caminhando e com o meu olhar desconfiado vejo surgir uma sombra a meu lado.  Olho para o meu lado direito e vejo um senhor mais velho, cabelo branco, chapéu azul escuro aberto, tem lógica, visto que a chuva não para. Um senhor mais curvado que levava a sua gabardina e que ia encolhido. Sem vergonhas deseja-me bom dia. Eu retribuo com toda a educação. Sem eu estar à espera começasse ali uma conversa como se fossemos amigos de longa data. O velho conta-me a sua história de vida. Perdeu a sua mulher, a sua filha… Ganhou a vida a escrever os seus textos. Fumava e bebia como principal inspiração e descarregava toda a sua fúria nos papéis. Perante toda esta conversa que íamos tendo, dou conta que já passa da hora prevista e dirijo-me para minha casa.
Chego a casa e sento-me à beira da lareira que ainda flamejava e que sobretudo me fazia aquecer as mãos que vinham geladas. Recosto-me, começo a pensar nas conversas com aquele homem. Tudo me parece tão estranho. Será que o homem estava lá, ou estaria eu a falar comigo próprio?



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