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Moderna, feminista e revolucionária

Primeira mulher a ser eleita para uma academia de letras no Brasil, catarinense Maura de Senna Pereira teceu trajetória de sólida atividade literária

Rodrigo Brasil - Especial para o Anexo


A poeta Maura de Senna Pereira (1904-1992), considerada a maior expressão feminina da literatura catarinense, permanece desconhecida mesmo em seu Estado natal, a ponto de não ser possível encontrar os livros de sua autoria nas livrarias atualmente. Perto de se comemorar o centenário de seu nascimento, no dia 10 de março de 2004, a Academia Catarinense de Letras (ACL) começa a preparar a edição de sua obra poética completa, e pretende lançá-la no começo do próximo ano. Com isso, as atenções devem se voltar para esta Anita Garibaldi das letras, que soube transgredir bravamente o parnasianismo literário e o conservadorismo social de sua época e impor-se como uma precursora do modernismo e do feminismo.

Embora a admiração por sua postura revolucionária seja quase unânime, não existe um consenso entre os críticos catarinenses sobre a importância de sua poesia. "Em Santa Catarina, é a figura de maior destaque na primeira metade do século 20", diz Lauro Junkes. "Maura foi uma mulher de muita força. Ela circulava no meio cultural com a independência de quem tinha o nariz no lugar e sabia o que estava fazendo. Porém, embora tenha construído uma obra, não fez nenhuma obra-prima", diz Iaponan Soares.

"Considero-a uma escritora de primeiro time, inclusive superior a Cruz e Sousa, simplesmente porque foi adepta do modernismo, um movimento mais significativo que o simbolismo de Cruz e Sousa, um mero imitador de Verlaine", diz Pedro Bertolino, autor do livro "Viagens com Maura", um perfil biográfico baseado na obra da autora. Porém, Maura não alcançou projeção nacional significativa. O crítico Wilson Martins, por exemplo, mesmo morando no Paraná, um estado vizinho, diz não conhecê-la. Além disso, a autora permanece ausente dos livros de referência.

Eleita para a ACL em 1930, aos 26 anos, Maura foi a primeira brasileira a se tornar uma imortal. Ali encontrou um ambiente tardiamente parnasiano, refratário ao modernismo de 1922. Porém, apesar do patrulhamento do acadêmico de Altino Flores e seus pares, a escritora reivindicou mais tarde o mérito de jamais ter aderido ao parnasianismo e ter sido sempre moderna.

"Mesmo no começo Maura não adotou a posição conservadora da Academia. Ela jamais se submeteu a qualquer tradicionalismo, seja literário ou social", diz Junkes. Bertolino concorda: "Cântaro de Ternura" tem versos brancos e livres, sem qualquer relação com o formalismo parnasiano", diz. "Somente em "Poemas do Meio Dia", livro de 1949, quando já morava no Rio de Janeiro há praticamente uma década, é que vamos encontrá-la trabalhando, às vezes, com a métrica tradicional e, ainda assim, sem os ranços parnasianos", completa. Para Iaponan Soares, no entanto, seu primeiro livro, "Cântaro de Ternura", é um tanto parnasiano. "Maura foi se aproximando do modernismo e se renovando em direção à contemporaneidade aos poucos", diz.

Lançado no final de 1931, "Cântaro de Ternura" traz 18 poemas em prosa de grande força telúrica, inspirados na paixão sensual por seu primeiro marido, Dorval Lamote, com quem teria se casado "também levada pelo sexo", como reconheceu depois. "O conservadorismo era total. Eu me sentia muito ligada à terra, parecia assim que era com os elementos da ilha que eu queria navegar. Os humos, o esperma dos bosques, a força do sol, tudo isso", disse a escritora, em entrevista à jornalista Colaca Grangeiro e ao escritor João Paulo Silveira de Souza, em 1990.

Fonte: Jornal A Notícia - Anexo - http://www1.an.com.br/2003/jul/20/0ane.htm


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