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Fragmento n° 2

Acordo quando os primeiros raios de sol entram pelas frestas de madeira. Meu Corpo está tão dolorido que mal consigo me mover, mas então percebo que não poderia mesmo: estou encolhida dentro de uma caixa de madeira.


Não acredito que aconteceu de novo!

Começo a bater com os pés e as mãos, fazendo o máximo de barulho possível possível. Não demora muito pra que eu ouça passos se aproximando. Não preciso nem ouvir a voz de quem está do outro lado, pois reconheço seu perfume imediatamente:

- Me tira daqui seu idiota!
- Você não está presa. Sabe muito bem disso.
- Mas eu não consigo me mover direito pra sair. Meu músculos estão totalmente doloridos, por causa dessa posição estúpida que eu dormi.

Ouço um suspiro impaciente e então o lençol que tampava a caixa onde estou é removido. A claridade intensa fere meus olhos e eu os fecho, enquanto sinto dois braços fortes me levantando cuidadosamente e me ajudando a colocar o pés no chão. Sinto fisgadas por todos os músculos do meu corpo enquanto tento endireitar minha postura.
Ele me segura pelos ombros e tenta fazer uma massagem, mas suas mão pesadas só fazem com que eu sinta mais dor.

- Por que você não me deixa em paz? - Reclamo, enquanto o Empurro Pra Longe de mim.
- Tudo bem. - Ele dá de ombros e sai do quarto.

Observo o quarto à minha volta, enquanto continuo tentando alongar meu corpo: a caixa de madeira onde dormi é o único "móvel". O lençol que a cobria está agora caído no chão cinzento e gelado ao lado dela e eu percebo que é a primeira vez que o vejo. Fora isso o quarto está totalmente, absurdamente vazio.

Abro a porta e sigo pelo corredor estreito até uma pequena sala. Ele está parado perto da janela, e eu observo seus olhos muito negros perdidos no balanço das copas das árvores do lado de fora. Ele sabe que estou ali, mas não se vira pra falar comigo, o que me deixa ainda mais irritada:

- Eu odeio aquela porcaria de caixa!
- Você veio por que quis. Outra vez.
- Não sei como eu achei o caminho pra essa espelunca!
- Você sempre acha, não importa quantas vezes eu continue me mudando.
- Como se você se mudasse pra muito longe!
- Mas eu nunca te convido pra me visitar. - Ele responde, virando-se pra me encarar.

Cada centímetro da minha pele parece esquentar à medida que seus olhos percorrem meu rosto.
Eu me aproximo alguns passos, quase sem perceber que estou andando, e fico a apenas uns poucos centímetros de distância dele. Seu corpo emana um calor agradável naquela sala gelada e vazia.

- Você comprou um lençol. - Digo, olhando em seus olhos.
Ele percebe o tom de acusação em minha voz e vira de costas, mas não se afasta.
- E daí?
- Nada. Só estou dizendo que você comprou um lençol. E você nunca compra nada.
- Não preciso de nada.
- Nem do lençol.
- Mas você precisa.

Percebo pelo tom de sua voz e por um leve estremecimento em seu corpo que ele se arrependeu dessa ultima frase. Isso me faz sentir um pouco melhor.

- Vou embora então.- Digo, virando de costas e me afastando em direção à porta.
- Não volte. Eu não estarei mais aqui.
- Vai se mudar de novo?
- Vou.
- Ta bom, não vou voltar.
- Mas vai me procurar de novo. - Percebo que ele está caminhando em minha direção.
- Não vou.

Começo a abrir a porta mas ele a fecha de novo, com um movimento brusco.
Fico imprensada entre ele e a porta. Sua respiração tão próxima de minha pele que eu não consigo evitar um arrepio.

- Você precisa parar de me procurar, está entendendo?
- Acha que eu não sei disso? Acha que eu gosto de acordar naquela caixa idiota?
- Então por que você simplesmente não pára de vir atrás de mim?
- Eu não consigo! Não sei o que acontece! Por que você não pára de abrir a porta pra eu entrar?
- Não posso!
- Não pode me deixar do lado de fora por uma noite?
- Não.
- Não pode porque tem medo que me aconteça alguma coisa, ou não pode porque não consegue me recusar? - Pergunto com um sorriso malicioso.
- Pára com essas perguntas idiotas!
- Eu acho que é um pouco das duas coisas.

Passo um de meus braços em volta de seu pescoço e acaricio de leve sua boca com a outra mão. Sinto que ele estremece, mas não se afasta.
- Você não estava indo embora?
- Foi você que fechou a porta.

Me aproximo mais e encosto meus lábios nos dele. Ele responde imediatamente, com um beijo quase desesperado.
Seus braços envolvem o meu corpo com uma mistura de avidez, desejo e carinho, e eu sei que ele deve ter se controlado a manhã inteira - e a noite passada - para não me tomar nos braços antes.

O beijo vai ficando cada vez mais suave, até que nossas respirações parecem estar sincronizadas. É simplesmente a sensação mais maravilhosa do mundo eu eu começo a me perguntar porque não fazemos isso com mais frequência!

Então, exatamente enquanto estamos mergulhados nesse momento de perfeita harmonia e prazer, ouço o leve ruído do ponteiro no relógio de pulso dele. Um calafrio gelado e dolorido percorre meu corpo com a velocidade de um relâmpago e eu instintivamente o empurro pra longe.

- Eu não posso. Sinto muito.
- Eu sei.

Ele tenta não passar nenhuma emoção em sua voz, mas seus olhos parecem experimentar uma dor mil vezes maior do que a do calafrio que acabei de sofrer.

Abro a porta e saio correndo, mesmo sabendo que ele não virá atrás pra tentar me impedir.


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