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Na fila das pedras

Por Dan Cilva

Devir fora importunado algumas vezes aquele dia por um telefone que insistia em tocar e ao atender ficar mudo. Já havia desistido de atender apos a quinta ligação, havia um trabalho a ser feito e que já não podia mais atrasar.

Caiam de par e em trio, eram finas mas ásperas assim como as palavras de Devir. Dado este fato íntimo, o homem mesmo jovem e não de todo feio acabara relegado a uma casinha nos limites da cidade. Era de seu gosto, a casa e a situação. Apenas via alguém quando volta e meia precisava ir até o mercado ou algum desavisado ir até sua moradia encomendar um móvel ou arranjo esculpido na madeira.

Alora, oh frágil Alora! De Corpo frágil até mesmo uma brisa a punha de cama, o que de fato destoava era sua mente, forte e perceptivelmente profunda. Como de cidade pequena era residente, muitas pessoas de lá achavam Alora estranha por ter ideias sobre todas as coisas. Gostava entre os dias trabalhados ir até o asilo local para visitar os idosos e com eles debater com respeito e sabedoria.

Alora, oh frágil Alora!

Joaquim Ciqueira, 80 anos, 79kg, 1,78m... Um pequeno papel preso ao dedão do pé do corpo era toda a identificação que o seguia pelos corredores do hospital. Rumava empurrado, não tinha vontade de morrer mesmo o já tendo consumado. O metal frio da mesa que o levava refletia em sequencias entre as luzes opacas do corredor até o necrotério. Caso fosse Joaquim, me sentiria uma peça de frango indo ao congelador. Mas o que estou falando? Mortos não sentem!

Eu sinto imensamente pelo trágico ocorrido. Esta nota seguia por um depoimento longo até. Na opinião de Verner, o vendedor de leite de porta em porta, jornais servem apenas para tentativas vãs de limpar certos estragos fisiológicos e de vez em quando marcar o tempo.

Fumegava sobre a mesa em uma caneca de flandre o leite morno na manhã fria de Quinta, assim os sapatos também de quinta que mantinham protegidos os pés calejados de Amanda. A mesa era farta e mesmo com o pobre acabamento da casa os alimentos ali postos mantinham todos bem, uns mais outros menos.

Menos um sujeito que dormiu por um segundo ao volante que ao cruzar o farol recebeu em sua janela o impacto do radiador de um velho mas grande chevrolet, seus documentos rolaram pela cabine enquanto seu corpo se retorcia em meio ao metal, Gastão, 32 anos, solteiro. Nunca se casara.

O corredor entre os bancos na igreja enfeitados com toda sorte de flores brancas com o padre junto ao noivo e os padrinhos aguardam a noiva, se por um instante visse seu coração, o sacerdote teria comido bem menos porco na vida. Mas já não importa, cinco minutos depois e já estavam chamando o IML para arrastar o corpo, os corpos.

Cada um enfileirado atraindo mais e mais mortos, sobre mesas prata como uma orquestra silenciosa e vazia enquanto lá fora em meio ao frio, os entes choram e se emocionam com o silencio aterrador da vida.


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