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POESIA: A Ladra do Cheiro das Rosas

Antes, uma breve explicação sobre a inspiração para este poema.
Tenho algumas lembranças dos meus 3 aos 5 anos de idade. Nesta época, morei em Ipeúna, interior do estado de São Paulo e sempre que podia, estava agarrado às grades do portão da casa que residíamos. Eu queria ver gente, ver as pessoas passarem pela rua, queria conversar com elas.

Na verdade eu desejava a rua como uma criança que deseja muito um brinquedo, mas uma pessoa especial para mim naquela época me chamou a atenção por causa de um fato curioso:

Paradinho e agarrado às grades do portão, às vezes eu via uma linda menina passar pela calçada. Muitas das vezes ela estava acompanhada, outras vezes sozinha e apressada, mas sempre que passava, vinha com ela um cheiro... Um perfume delicioso, bem verdade. Para mim e minha cabeça infantil, era o Cheiro Das Rosas do jardim da casa da frente. Defini, então, sabe-se lá como, que a menina passava e roubava para si o cheiro das rosas. Por isso eu ficava lá, esperando ela voltar para ver se as rosas, que me pareciam tristes depois de serem roubadas, iriam reclamar o que lhes era de direito. Na maioria das vezes, via ela voltar, mas as rosas não faziam nada. Eram raros os momentos em que a menina demorava muito e minha mãe me recolhia, frustrado, para dentro de casa, antes que eu pudesse vê-la.

Um dia, minha mãe precisou ir até a casa da frente para fazer algo e me levou com ela. Por coincidência, a menina já havia voltado. Por isso, corri cheirar as rosas e o cheiro delas estava lá... O perfume que a menina pegava das rosas estava de volta. Claro, pensei então que a menina ao voltar, devolveu às rosas o perfume que as pertencia. A partir deste dia acreditei até meus cinco anos aproximadamente, que a menina emprestava das rosas o delicioso perfume e que elas eram amigas.

Outro dia (21.01.2016) estava fazendo um trabalho comigo mesmo, ouvindo musica clássica, e me esforçando para lembrar de ocorrências dos meus 3 ou 4 anos e acabei lembrando desta história. Por isso fiz o poema abaixo:


POESIA: A Ladra do Cheiro das Rosas


Quando você passava, toda formosa.
Vinda de sua casa pomposa,
Trazia consigo o cheiro roubado das rosas.

Coitadas, ficavam lá paradas,
Torcendo por seu bem precioso não se perder ao vento,
Como pessoas recém roubadas de seu talento.

E eu aqui, com mãos e dedos,
Grudados às grades do portão...
Achando-me espertalhão por saber o seu segredo.

Respirava fundo e sem jeito,
Mas o cheiro foi-se, como você e com você.
Era como se um doce encanto fosse desfeito.

Pequeno, infantil e para as rosas olhando,
Ficava eu, sabendo que a menina iria voltar...
Paradinho e esperando.

Isso era o que me acalmava o peito,
Este sentimento perfeito, da certeza, que logo ela voltaria,
Devolvendo para as rosas, o que tirado havia.

E assim eram meus dias pequenos de pequeno,
De criança com mãos e dedos,
Agarrados às grades do portão.

Eram sim, dias de espera ansiosa,
Desejando ver a ladra do perfume das rosas,
Que passava e às vezes tocava minhas mãos.

Quanto às rosas, eu olhava com pena.
Apreciava as pobres pequenas,
Tristes por estarem sem cheiro.

Suspirava fundo e enchia meu peito,
Pensando na falta de respeito,
Que era roubar das rosas, sempre ao passar por elas, o cheiro.

Eis que um dia, tive a oportunidade.
Minha mãe atravessou a rua, 
E eu fui atrás dela, na verdade.

Dentro da casa com jardim de rosas,
Estava eu agora, envolvido...
Cheirando e deliciando-me com o perfume devolvido.

A menina ladra havia retornado,
Com seus pequenos passos apressados e alegria no peito.
E devolvido para as rosas o que lhes era de direito.

Percebi então que não se tratava de uma ladra,
Mas sim de uma menina que emprestava, com amor.
Afinal, sempre que voltava, devolvia o que pegou.

Ah! Menina astuta.
Quanto renderam-me pensamentos e labutas,
Buscando entender o que realmente fazias.

Me senti mais velho e sábio naquele dia,
Já que minha cabecinha compreendia agora...
O tamanho de sua intimidade com as rosas.

A menina que ia e voltava, voltava e ia...
E o cheiro das rosas, tinha como companhia.
"Sorte", pensei eu... "Sorte a minha". Poder ver isso em meus dias.

Silvio A. C. Francisco
Charqueada / SP
22.01.2016
15:52h.


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