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Resenha #8 – Demian e citações do livro

O livro Demian inicialmente publicado com o pseudônimo de Emil Sinclair, foi escrito pelo alemão e ganhador do Nobel de literatura em 1946, Hermann Hesse. O livro conta a historia de um garoto chamado Emil Sinclair  e suas dificuldades durante sua infância e adolescência. O livro foi publicado em 1919 e foi um sucesso na época, principalmente entre os jovens alemães. O livro tem vários traços autobiográficos como:  interesses pessoais, sua infância e traços da família.

“[…] Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca, mas já agora não busco mais nas estrelas e nos livros: começo a ouvir os ensinamentos que o meu sangue murmura em mim. Não é agradável a minha história, não é suave e harmoniosa como as histórias inventadas; sabe a insensatez e a confusão, a loucura e o sonho, como a vida de todos os homens que já não querem mais mentir a si mesmos.

A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro. Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode. Todos levam consigo, até o fim, viscosidade e casas de ovo de um Mundo primitivo. Há os que não chegam jamais a ser homens, e continuam sendo rãs. esquilos ou formigas. Outros são homens da cintura para cima e peixes da cintura para baixo. Mas cada um deles é um impulso em direção ao ser. Todos temos origens comuns: as mães; todos proviemos do mesmo abismo, mas cada um — resultado de uma tentativa ou de um impulso inicial — tende a seu próprio fim. Assim é que podemos entender-nos uns aos outros, mas somente a si mesmo pode cada um interpretar-se.”

O livro conta a historia de Emil Sinclair, garoto que convivia tranquilamente com a família e os colegas de classe, para ele esse era o mundo luminoso, da pureza, da felicidade. Seus pais eram muito religiosos e suas irmãs tinham muito apreço por ele. Acontece que aparece um personagem mais velho e de classe inferior chamado Franz Kromer, que leva ele e seus colegas para realizar uma tarefa braçal, que é concluída pelo grupo devido a forma autoritária do garoto. Então, eles começam a conversar, falando sobre historias audaciosas e corajosas. Sinclair sente a necessidade de mentir, pois nunca viveu nesse mundo obscuro, ele inventa uma historia de um roubo de frutas em uma arvore, conta com muitos detalhes para parecer uma historia real.

Acontece que essa atitude de Sinclair acaba voltando contra ele, pois Kromer utiliza da inocência do garoto para chantageá-lo. Ele acaba entregando moedas do cobre da família e fazendo outras atividades para ele. A partir desse momento Sinclair começa a refletir sobre sua pessoa, sua transformação, de um garoto inocente que convivia com a família e amigos, para um mundo sujo, de interesses e que era até então desconhecido para ele. Acompanhamos sua angustia e sua lenta transformação e sua relação complicada com a família para esconder esse seu fardo.

Capa do livro

Eis que aparece um novo garoto na escola dele chamado Demian. Sinclair o descrevia como uma mescla de gratidão e receio, admiração e terror, simpatia e de intima repulsa. Tinha a impressão de ter um olhar diferente, não igual seus colegas de classes ou ele próprio, e sim a de um adulto. Eles conversam sobre a aula de religião na volta da escola. Demian tem sempre uma visão própria sobre as historias contadas pelo professor e ele sempre tem uma cuidado para explicar seu ponto de vista. É feito paralelos entre a historia de Abel e Caim e ambos, como se houvesse uma marca na fronte dos garotos que os identificava, assim como Caim.

“Era como se nele houvesse também algo de um rosto de mulher e, além disso, por um momento, aquele rosto não me pareceu mais nem infantil nem viril, maduro ou jovem, mas de certa maneira milenário; de cero modo, alheio ao tempo, selado por idades diversas da que nos vivemos.”

Demian acaba encontrando Sinclair por acaso, quando ele estava se despedindo de Kromer, e acaba deduzindo o que estava acontecendo. Demian faz algo (que não ficamos sabendo) e Kromer perde o interesse por Sinclair e deixa-o em paz. E a partir dai os dois se tornam amigos.

“Pois Demian teria exigido de mim muito mais do que meus pais exigiram. Teria procurado fazer-me mais independente através do estimulo e da exortação do escarnio e da ironia. Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo!”

“Como no sonho, a voz de Demian e sua vigorosa influência se apoderaram de mim. Só consegui assentir de novo. Acaso não estava falando com uma voz que só poderia brotar de mim, uma voz que tudo sabia? Que sabia melhor e mais claramente do que eu.”

Demian parecia conseguir entrar na mente das pessoas e pensar o que elas pensavam. Parecia ter uma predisposição para prever/manipular as pessoas. Demian acaba discutindo sobre Deus, e como ele representava apenas um lado do mundo, o mundo iluminado, e comentava sobre Abraxas, Deus que teria em si os dois lados.

“Esse Deus do antigo e do novo testamente é, antes de tudo, uma figura extraordinária, mas não o que realmente deveria ser. Representa o bom, o nobre, o paternal, o belo e também o elevado e o sentimental… Está bem! Mas o mundo se compõe também de outras coisas, E tudo o que sobra é atribuído ao Diabo; toda essa parte do mundo, toda essa outra metade é encoberta e silenciada. Glorifica-se a Deus como o pai de toda a vida, ao mesmo tempo em que se oculta e se silencia a vida sexual, fonte e substrato da própria vida, declarando-a pecado e obra do demônio. Não faço a menor objeção a que se adore esse Deus Jeová. Mas creio que devemos adorar e santificar o mundo inteiro em sua plenitude total e não apenas metade oficial, artificialmente dissociada. Portanto, ao lado do culto de Deus devíamos celebrar o culto do demônio. Isto seria o certo. Ou mesmo criar um deus que integrasse em si também o demônio e diante do qual não tivessem que cerrar os olhos para não ver as coisas mais naturais do mundo.”

 “Todavia, algo de estranho se passava comigo; minha vida se achava em completa desordem. Eu havia vivido num mundo claro e pulcro, havia sido uma espécie de Abel e agora mergulhava profundamente no ”outro”; caíra muito baixo, certamente; mas não era, em última instância, tão culpado. Como se explicava?… De súbito, veio-me á mente uma recordação que me cortou o folego por uns segundos. Naquela tarde em que começou o pior de meus infortúnios, havia me ocorrido aquilo mesmo com meu pai. Por um momento, fora como se eu penetrasse no mais intimo de meu próprio pai, em sua prudência e em seu mundo luminoso e os desdenhasse. E eu , que já era Caim e levava a marca na fronte, imaginara naquele instante exato que o sinal não era um estigma infamante, mas antes um distintivo e que minha maldade e minha infelicidade me faziam superior a meu pai, superior aos homens bons e piedosos.”

A narrativa avança para períodos que os dois amigos não convivem mais próximos, Sinclair vai para faculdade e perde um pouco o contato com Demian. Apesar disso eles se comunicam nos momentos que Sinclair mais precisa. Demian acaba se tornando um tutor espiritual de Sinclair. Na faculdade Sinclair acaba criticando a forma com que aqueles jovens acabam vivendo suas vidas, inclusive ele próprio acaba entrando nesse mundo sombrio da bebida e relações frívolas. Mas acaba achando um tutor semelhante à Demian que toca órgão em uma igreja, mas que tem relações mais vivas com a realidade ao seu redor. Sinclair acaba encontrando ele na hora certa, no momento que estava deixando de lados alguns ensinamentos de Demian.

“Nosso mundo estava carcomido, e essa estupidez estudantil era ainda menos estúpida e menos desprezível do que uma centena de outras.”

“Ao reaver a consciência, depois de um curto sono mortal de que despertei dolorido, sentido profundo desgosto. Erguendo-me na cama, percebi que estava com a camisa que usara durante o dia, minhas roupas e sapatos, espalhados pelo chão, cheiravam a fumo e a vômito, e em meio á dor de cabeça, as náuseas e a sede abrasadora, surgiu diante de minha alma uma imagem há muito não evocada. Vi minha cidade natal e meu lar, meus pais e minha irmãs, vi nosso jardim e meu quarto silencioso e íntimo, o colégio e a praça do mercado; vi Demian e a aula de religião; e tudo aquilo era luminoso, tudo parecia aureolado por suave resplandecência, tudo era maravilhoso, divino e puro, e tudo, tudo aquilo – agora percebia – havia sido meu até poucas horas antes e se arruinara, justamente agora, já não me pertencia, me recusava e me olhava asco. Todas as puras delícias que desde as mais longínquas douradas horas infantis devia a meus pais – os beijos de minha mãe, os Natal, as piedosas manhãs dominicais, as flora espezinhado. Se naquele instante os homens da lei viessem prender-me e me arrastassem para a forca, condenando-me como escoria e profanador do templo, eu não teria oposto um gesto, mas seguiria prazeroso, considerando justo e cabível a sentença.”

Além disso, Sinclair acaba se interessando por uma garota no parque, mas que com o passar do tempo vai perdendo seu interesse por ela. Apesar disso volta seu interesse pela busca interior e seu amigo Pistórius, que tem o dom de ensinar as outras pessoas na busca interior, ajuda Sinclair nessa fase, ele acaba expondo seu ponto de vista sobre a consciência e essência da natureza e essa relação.

“[…] A contemplação dessas criaturas, o abandono às formas irracionais, singulares e retorcidas da Natureza, despertam em nós um sentimento de consciência do nosso interior com a vontade que as fez nascer e acabam por parecer-nos criações próprias, obras de nosso capricho; vemos tremer e dissolver-se as fronteiras entre nós e a Natureza, e conhecemos um novo estado de ânimo em que já não sabemos se as imagens refletidas em nossa retina procedem de impressões exteriores ou interiores. Nenhuma outra prática nos revela tão singelamente quanto esta até que ponto também somos criadores e como nossa alma participa sempre de uma contínua criação do mundo. Uma mesma divindade indivisível atua sobre nós e a Natureza, e se o mundo exterior desaparecesse, qualquer um de nós seria capaz de reconstruí-lo, pois a montanha e o rio, a árvore e a folha, a raiz e a flor, todas as criaturas da Natureza estão previamente criadas em nós mesmos, provêm de nossa alma, cuja essência é a eternidade, essência que escapa ao nosso conhecimento, mas que se faz sentir em nós como força amorosa e criadora.”

Neste período Sinclair acaba tendo alguns sonhos, que mostram que talvez seja um sinal para se reencontrar com Demian. No sonho ele encontra a ave saindo do ovo. E em outro uma face de uma pessoa que ele não sabia ao certo quem era. Ele acaba aprendendo a desenhar e pintar quadros, e faz ambas as pinturas tiradas da sua memoria.

“Quem quiser nascer tem que destruir um mundo; destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a conseqüente dolorosa busca da própria razão do existir: ser é ousar ser.”

Nesta questão, ele diz um pouco sobre suas experiências desde sua infância conturbada, seu amadurecimento, redescoberta como ser humana. A questão de que precisamos nos desvencilhar do nosso passado na infância para amadurecer e seguir o caminho que escolhemos para nos.

“Contemplei novamente o retrato pendurado á janela, já quase apagado. Mas via brilharem ainda seus olhos. Era o olhar de Demian. O olhar daquele que havia dentro de mim. Do que sabia tudo.”

“Quando odiamos, odiamos algo dentro de nos, assim como algo que não está em nos nós deixa indiferente enxergamos o mundo pelo aquilo que temos dentro de nós.”

Sinclair volta a reencontrar Demian e sua mãe, e confirma a imagem que teve nos sonhos. Acaba nesse período eclodindo a guerra.

Hesse debate assuntos sobre nossa descoberta como seres humanos, essa transição da infância para adolescência, as dificuldades enfrentadas, o rompimento com a família. Acaba discutindo assuntos de sua infância, o pertencimento de grupos, em contrapartida da busca interior. O inicio da guerra, suas consequências e nossa missão ao longo da vida. O livro é cheio de questões filosóficas, tem diversas frases de efeito, referencias a bíblia e pensadores. Vou deixar aqui algumas citações que marquei durante a leitura. Para quem já leu recomendo também o livro Sidarta do mesmo autor.

“E nesse ponto abrasou-me de repente como aguda chama a revelação definitiva: todo homem tinha uma “missão”, mas ninguém podia escolher a sua, delimitá-la ou administrá-la a seu prazer. Era errôneo querer novos deuses, era completamente errôneo querer dar algo ao mundo. Para o homem consciente só havia um dever: procurar-se a si mesmo, afirmar-se em si mesmo e seguir sempre adiante o próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que a se possa conduzi-lo.”



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