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Conheça as freiras da Califórnia que plantam e fumam maconha

Hábitos tradicionais de freiras, fé na ciência e devoção à natureza. Logo à primeira vista, o véu branco que emoldura o rosto sereno de uma senhora de 57 anos nos remete a ideia de sabedoria. No interior da Califórnia, nos Estados Unidos, irmã Kate lidera a comunidade das ‘Sisters of the Valley’ (Irmãs do Vale, em português). Em uma pequena fazenda nos arredores de Mercedes, a cerca de duas horas de San Francisco, as irmãs cultivam uma plantação de Maconha e produzem medicamentos à base de cannabis.

Tudo começou em 2011, quando irmã Kate comprou a fazenda onde vive hoje com outras irmãs. Ela lembra que na época, quando se auto declarou freira, plantava seus próprios vegetais e já tinha a intenção de utilizar o terreno para cultivar maconha, produzir medicamentos e ajudar Pessoas. Todo o processo seria feito por mulheres com espírito ativista, permitindo que Elas trabalhassem, dando apoio e incentivo a outras mulheres.

As freiras auto ordenadas fazem questão de deixar claro que não pertencem a nenhuma religião. Para elas, o homem deixou de seguir, ao longo dos anos, os princípios básicos e essenciais para a fé, destruindo os reais valores das doutrinas religiosas. Irmã Kate chama atenção para o fato de que a religião causou inúmeros danos ao meio ambiente, assim como tirou o poder das mulheres. Ela acredita, no entanto, que é importante existirem pessoas que lutem pela volta do que foi esquecido no tempo.

Irmã Kate explica o porquê das vestes, já que elas são contra qualquer religião. “Estamos introduzindo um estilo de vida, não estamos tentando imitar as freiras convencionais”.

Ela esclarece que existem três razões para o uso das roupas. O hábito as associa às Oito Mães citadas na Bíblia, além de lhes dá a certeza de estarem respeitando um trabalho que vem sendo desrespeitado há anos.

Por fim a irmã lembra que muitas freiras cobrem seus corpos por razões espirituais. “Isso nos dá a força que precisamos, é a espiritualidade e não a religião que nos move. Nós só produzimos os medicamentos quando estamos vestidas com nossas roupas brancas”.

Entre as razões para desacreditar em qualquer religião, ela afirma: “Na Bíblia diz: […] e todos os animais, e todas as plantas foram feitos para vocês”.

E continua. “E o que o homem faz? Vai contra o que Deus criou e segue um caminho totalmente oposto, descartando a natureza que poderia beneficiá-lo”.

Para as irmãs, com a maconha, que é fruto da terra, não poderia ser diferente. Apesar de as leis da Califórnia permitirem o consumo de maconha medicinal para maiores de 21 anos, a Câmara Municipal de Mercedes criou uma proposta para acabar com todas as formas de cultivo da planta. Mas as freiras não desistem e continuam acreditando no poder da Mãe Natureza.

O trabalho realizado pelas ‘Sisters of the Valley’ conta com três conceitos básicos. A irmã Kate explica que o primeiro é em relação ao ativismo das mulheres para que elas possam mostrar para si mesmas que são capazes de trabalhar, sem depender de nada nem ninguém. O segundo está ligado ao serviço prestado pelas irmãs, que tem como objetivo beneficiar pessoas. Por fim vem o elemento espiritual, que não tem nada a ver com religião, mas sim com a individualidade de cada pessoa em busca do significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível. Ela lembra que a espiritualidade é usada em benefício das próprias freiras, enquanto o serviço e o ativismo são para a sociedade.

As irmãs acreditam no poder medicinal da planta. Para elas, o que é cultivado na sua casa e no seu jardim deve ser usado em benefício de sua família. A irmã Kate afirma, entretanto, que em Mercedes é ilegal plantar maconha e fazer medicamentos à base de cannabis, o que as obriga a comprar a planta fora da cidade.

Para ela o nome disse é corrupção. “É corrupção quando você diz para as pessoas que elas não podem plantar em seus jardins, é ridículo. Eu não entendo, porque não podemos fazer isso dentro da lei?”.

Por outro lado, o otimismo é aliado fiel da freira. “Esse processo é devagar, as pessoas são devagar. Quando eu tinha 17 anos nunca poderia imaginar que a essa altura da minha vida já teríamos evoluído tanto na ciência e na humanidade”.

Irmã Kate lembra que a proibição alimenta o mercado negro, uma vez que a maconha é facilmente encontrada em qualquer lugar. “Depois de ter viajado pelo mundo eu tenho certeza que eu vou conseguir a minha maconha aonde eu quiser. Proibir só incentiva o mercado negro”, conta ela.

Ela diz ainda que em lugares onde a maconha nunca foi ilegal apenas 10% da população faz uso da cannabis, o que não é surpresa para a freira. “É o que podemos esperar de uma sociedade que não sofre com crimes em relação a isso. Simplesmente 10% da população encontra seus remédios na natureza e não precisa recorrer a indústria farmacêutica”.

Apesar das dificuldades impostas pelas leis e até mesmo pela igreja, as ‘Sisters of the Valley’ desejam um dia poder pagar impostos pelo seu trabalho e contribuir com o governo. As freiras fabricam medicamentos que ajudam a controlar inúmeras desordens, como insônia, alívio da dor, tratamento capilar, depressão e até problemas crônicos de pele em animais de estimação. Os produtos são vendidos para diversas cidades dos Estados Unidos e para o exterior. Para a irmã Kate, o que mais a deixa feliz e realizada é saber que ela ajuda pessoas a se livrarem da indústria farmacêutica e fazerem uso de medicamentos naturais totalmente eficazes.

Os produtos são feitos por elas e ricos em Canabidiol (CBD) –substância química que corresponde a 40% dos extratos da planta e pode ajudar a aliviar os sintomas de diferentes doenças, como artrose e até o câncer. Os medicamentos produzidos pelas irmãs são livres de THC –o responsável pelo barato–, e por isso não oferecem efeitos psicoativos.

A freira explica que existem dois tipos de medicamentos em gota produzidos por elas. Ambos possuem CBD, mas enquanto um tem um gosto horrível, o outro é saboroso. O primeiro leva álcool na composição e é absorvido rapidamente pelo corpo. Com efeito instantâneo, o remédio é usado em casos mais urgentes, como, por exemplo, uma crise de convulsão. O segundo, por sua vez, é um óleo cozido que dá um efeito mais relaxante e duradouro.

Perguntada sobre os benefícios que a maconha medicinal pode trazer para o ser humano, a irmã Kate afirma ter fé no poder da natureza e na evolução da ciência. “A maconha é uma planta inteligente. Eu não acredito que ela seja boa para doenças específicas, mas ela vai suprir o que está em falta no organismo de cada pessoa, agindo de forma diferente no corpo dos indivíduos”.

“Se eu tivesse diabetes, por exemplo, fumaria todos os dias com a certeza de que isso estaria ajudando meu corpo”,  acrescenta. Kate afirma que chega a ser ofensivo ter que plantar cannabis em espaços pequenos por ser ilegal.

A líder ativista acredita que não somente a maconha medicinal deveria ser legalizada. Para ela, que se diz anarquista, não faz sentido existir regulamentação em relação a uma planta. “Não acredito em nenhum tipo de regulamentação para planta, nenhum. Além disso, enquanto para algumas pessoas a cannabis pode aliviar sintomas de diversas doenças, para outras ela pode ser uma válvula de escape ou um meio de diversão, de entretenimento”.

A Califórnia, que desde 1996 só autorizava o consumo de maconha para fins medicinais, deu um passo a diante e no início de novembro aprovou também o uso recreativo. A medida passa a permitir que maiores de 21 anos portem até 28,5 gramas de cannabis. A vitória da legalização tem importância nacional, dado o poder de influência do estado.

Para a irmã Kate, se a maconha fosse liberada em todo o território norte-americano, isso poderia alavancar a economia mundial. Ela acredita que quando os Estados Unidos finalmente legalizarem totalmente o consumo da planta, o mundo estará pronto para seguir o mesmo caminho.

Kate tem certeza que a ciência vai evoluir a ponto de nas próximas gerações a maconha ser vista como uma solução e não um problema. “A ciência está evoluindo aos poucos. Acredito que nas próximas gerações, daqui a 10 ou 20 anos, as crianças vão comer maconha junto com o cereal, no café manhã, para ajudar no desenvolvimento, no apetite a fome ou o que for. As pessoas vão poder comprar pílulas, óleos e afins à base de CBD para usar a cannabis em benefício da saúde. É uma planta, vem da natureza, devemos usá-la para nos beneficiar e não destruí-la”.

A representante das Sisters of the Valley afirma que a humanidade utiliza a ciência por caminhos errados, desprezando o que foi dado por Deus. Ela chama atenção para o fato de que, ao invés de o homem pegar o que foi dado pela Mãe Natureza para curar doenças, ele acaba descartando essa possibilidade, destruindo o que é natural e fabricando novos remédios. A freira diz que desta forma surgem novas doenças ao longo dos anos, além de diversos efeitos colaterais causados pelas medicações.

A comparação que muitas pessoas fazem entre a maconha e outras drogas mais pesadas ao afirmar que a cannabis é a porta de entrada para outras substâncias não abala a irmã Kate. “Eu ignoro essas pessoas, não podemos dar atenção a esse tipo de informação equivocada. A ciência está evoluindo devagar. Essas pessoas não sabem o que dizem, elas não prestam atenção ao que acontece no mundo, são elas que acham que aquecimento global não existe, são elas que não prestam atenção para o que ciência aponta”.

“Eu sei que em cinco ou dez anos elas vão mudar de opinião, simplesmente porque você não pode viver na escuridão para sempre”, finaliza.


Por Fernanda Caldas, jornalista e publicitária

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