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"Le gymnopédiste", a juventude de Satie

  A seguir traduzirei um resumo do artigo escrito pelo pianista sueco Olof Höjer sobre as composições de Erik Satie para piano entre 1884-1890. Este texto traz fatos da juventude de Satie, de sua época de estudante e primeiros anos de carreira, levantando hipóteses sobre a formação de sua personalidade artística.


                                          Santiago Rusiñol - retrato de Eric Satie
 
  "O primeiro grande período pianístico data de sua juventude e sua primeira estada em Montmartre. Nesse período escreveu 20 peças para piano, 5 canções, alguns esboços para quarteto de cordas, música de teatro para Joséphin Péladan e uma pequena peça orquestral, mais tarde reutilizada como penúltimo movimento em Trois morceaux en forme de poire para duo de piano.
  Sua vida pessoal era um tumulto, seus estudos no conservatório falharam, enquanto ele econtrava um novo interesse pelo esotérico. Através de artistas e escritores ele conheceu a atmosfera que permeava a vida boêmia dos cafés de Montmartre na Belle époque.
  Nos seus dias de juventude em Honfleur duas pessoas foram importantes para seu futuro desenvolvimento: seu tio Adrien Satie e seu primeiro professor de música Vinot, organista da igreja de Saint-Léonard. Seu tio, com quem passava muito tempo, parecia ser um homem muito excêntrico. Vinot, que recebera sua formação na École Niedermeyer em Paris, a escola mais famosa para músicos de Igreja na segunda metade do séc. XIX, começou a ensinar Satie em 1874. Provavelmente através dele Satie conheceu o canto gregoriano, cujas características estão presentes em praticamente tudo que compôs entre Ogives, em 1886 e Socrate, em 1918. Vinot não só tocava na igreja como também compunha algumas valsas lentas para uma orquestra em Honfleur. Além disso o próprio pai de Satie era compositor amador de canções de cabaret e sua madrasta, segunda esposa de seu pai, também compunha música de salão para piano. Eis os dois pilares da criação musical de Satie já tomando lugar em sua vida na década de 1870: o canto gregoriano e a música ligeira.
  Satie buscava a companhia de escritores e atristas ao invés de músicos.

  Sua primeira composição conhecida é um allegro para piano entitulado "Honfleur, 9 de setembro de 1884", com apenas 9 compassos, cerca de 20 segundos de duração. O pesquisador Laurent de François mostrou que é baseada em uma música popular.

  Entre suas primeiras obras publicadas estão duas valsas de salão, suplementos de uma publicação de seu pai. As frases e baixos triviais, frequentemente repetidos em torno dos acordes básicos são típicos da música de salão da época, mas o sentimentalismo do estilo é evitado.

  Ogives
  Em 1886 Satie conheceu o poeta José Maria Manuel Contaime, nascido na Espanha e 10 meses mais jovem. Sua amizade, que começou como uma espécie de simbiose artística, continuou no séc. XX. Contaime de Latour, nome artístico pelo qual se chamava, teria seus poemas certamente esquecidos se Satie não os tivesse usado em sua música. Provavelmente foi o poeta que introduziu Satie às obras do escritor esotérico Joséphin Péladan, talvez influente na devoção do músico pelo misticismo medieval, mas deve-se dizer que tal esoterismo era típico do período.
  Ao invés de praticar piano ele ficava sonhando sob os arcos da Catedral de Notra Dame, ou na biblioteca lendo livros de arte gótica.

Ele aprofundou seus estudos em canto gregoriano e compôs quatro pequenas peças para piano chamadas Ogives. Elas podem ser descritas como uma paráfrase do canto litúrgico e devem ter sido incompreensíveis para quem as ouviu. Confusamente parecidas entre si, como se Satie tivesse composto a mesma música de maneiras diferentes (técnica a que mais tarde retornou), seguem o mesmo padrão no uso de blocos estáticos sem nenhuma conexão com a música normal para piano da época. "Melodias criadas no estilo místico-litúrgico tão amado pelo autor, recebendo o sugestivo título de Ogivas," como ele mesmo descreveu-as na época de sua publicação, em 1889, quando já vivia em Montmartre.

  Trois Sarabandes
  Em setembro de 1887, depois de ter composto Ogives e uma série de canções sobre poemas de Contaime de Latour (Elégie, Les anges, Les fleurs, Sylvie e Chanson), escreveu três sarabandas. Agora Satie deu as costas para o organum da Idade Média e criou música de um caráter de dança solene. Nessas Sarabandes percebe-se, com mais clareza do que em Ogives, o crescimento do curioso método composicional que levará a uma complexidade singular em certos trabalhos seus. Seções curtas se relacionam, são repetidas, espelhadas e assim por diante, criando uma estrutura como a de um mosaico ao invés de um desenvolvimento contínuo. Satie está encontrando seu caminho para o seu espaço musical, onde tudo já existe, circulando em torno de si. As 3 Sarabandes também ficaram guardadas, sendo publicadas em 1911, quando Ravel e Les six mostraram interesse nas primeiras obras de Satie. Neste contexto, o jovem compositor Roland-Manuel escreveu sobre as sarabandas: "Aqui estão três pequenas peças escritas com uma técnica harmônica sem precedentes em uma estética inteiramente nova, instituindo uma atmosfera particular, uma mágica sonora totalmente original."

  Gymnopédies
  Em algum dia de dezembro de 1887 Satie foi apresentado ao encanador/poeta Vital Hoquet no Chat Noir, de longe o mais famoso dos cabarets artísticos e literários de Montmartre. Se apresentou como um Gymnopédiste, ninguém sabe por quê. Costuma-se pensar que encontrou inspiração em um poema de Latour, impressos com a música da Gymnopédie nº1 em 1888, mas deixadad de lado em edições posteriores: (tradução do original)
Oblíqua e cortando a sombra uma torrente deslumbrante
Corria em fluxo de ouro sobre a laje polida
Onde os átomos de âmbar ao fogo se refletiam
Misturaando sua Sarabanda à Gymnopaedia  
  Mas Satie pode ter simplesmente achado a palavra em um dicionário da época. Em um deles seu significado é definido como "uma dança acompanhada de canto executada por garotas espartanas nuas". A palavra de sonoridade estranha com ar de sensualidade e exotismo pode ter interessado Satie e Latour. Os pesquisadores de hoje concordam que Gymnopaedia era uma celebração a Apolo na antiga Esparta onde homens de todas as idades dançavam, não nus, mas desarmados.
 
 
 

 


 


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