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Isabel Cristina Caçoilo: O Natal da minha infância

Aquecíamos os pés ao Menino Jesus








Nasci e vivi a minha infância e parte da adolescência numa aldeia, "Campo de Jales", também conhecida por Minas de Jales, concelho de Vila Pouca de Aguiar, Distrito de Vila Real de Trás-os-Montes. 
A ceia ou noite de consoada, como lhe costumávamos chamar, era passada em família. No caso da minha família, a mesa era bem preenchida: recebíamos as minhas irmãs com respetivos maridos e filhos. Eu era a mais nova da família. Quando eu era criança e já mesmo adolescente as minhas irmãs e irmão já não viviam na aldeia. Por norma, iam passar o Natal com os pais, podendo um ano por outro ser o contrário. 
Em minha casa, a mesa era composta pelos pais, filhos e netos. No entanto, o uso na minha aldeia e para quem lá habitava regularmente, cada família jantava em sua casa. No fim de jantar os filhos dirigiam-se a casa dos pais para passar o resto da noite em família. Passava-se a noite a jogar ao Rapa. Era era um jogo com um pequeno pião. O prémio que se "rapava" eram os frutos secos, e confetes (pequenas entrelinhas de açúcar de diferentes cores). 
O prato tradicional da consoada era o bacalhau com a couve troncha. Havia também o Polvo frito e os bolinhos de bacalhau. Como doces, tínhamos as rabanadas e os bilharacos. 
Havia a Missa do Galo na Igreja Paroquial da Freguesia "Vreia de Jales" e a Missa no dia de Natal na capela da aldeia. 
As prendas não eram como hoje, claro. Eu recebia sempre um pacotinho de confetes e  chocolates (fantasias de natal). Como era a mais nova das irmãs, já recebia uma boneca, um jogo ou um brinquedo qualquer. Já tinha esse miminho dado pelas irmãs. Recebia sempre meias, pijama ou uma peça de roupa.
Naturalmente era sempre o Menino Jesus que dava as prendas. 
Em casa,  era tradição habitual do Natal fazer a árvore de Natal, com um pinheiro verdadeiro, tentávamos escolher o mais direitinho possível. O presépio por baixo da árvore. Entre as fitinhas e estrelinhas colocadas na árvore, havia a tradição de um dos enfeites serem as fantasias de natal em chocolate. 
Na aldeia havia uma tradição como noutras aldeias transmontanas. Na tarde de 24, os rapazes iam ao monte buscar o maior tronco ou raiz de árvore possível. Traziam-no no carro dos bois. 
No final da tarde de 24,  faziam uma fogueira num largo próximo da capela, chamado Terreiro. Nessa fogueira, colocavam a arder o dito tronco ou raiz de árvore e mantinha-se a fogueira acesa toda a noite de 24 para 25. Dizíamos que era para aquecer os pés ao Menino Jesus. O braseiro que se formava durava todo o dia 25. Havia a tradição de sair de casa e ir até ao terreiro ver a fogueira de Natal, principalmente os mais jovens, que se juntavam ali à volta em amena conversa até tarde. Por vezes, os fortes nevões obrigavam-nos a ficar em casa. 

Cristina Caçoilo


NOTAS:
1 - Li, com prazer, o texto de Isabel Cristina Caçoilo que foi publicado no Timoneiro desde mês. Seria, à partida, mais uma memória, desta feita de uma pessoa de certa  região do nosso país. Mas desta vez, o escrito da Cristina levou-me até uma terra que eu, com a minha família e uma outra daquelas bandas, havia visitado há muitos anos.
Nas Minas de Jales, fomos recebidos com todas as honras, sendo nosso guia um responsável pelos trabalhos de arrancar o ouro do ventre da terra. Não era o ouro, amarelo e reluzente, que todos conhecemos, mas o minério aurífero, do qual sairia o metal precioso. Vimos o que foi possível, mas o ouro amarelo nunca o vimos por ali. No final, fomos brindados pelo nosso cicerone, amigo do casal nosso anfitrião (António Fernandes, de saudosa memória, e Nazaré Chaves), com uma merenda à transmontana, de comer e chorar por mais.
Obrigado, Isabel Cristina, pelas recordações que me ofereceste neste Natal de 2018;

2 - As fotos dispensam legendas porque se identificam com o texto.



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