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Encosto

Tudo começou Num Dia Quente como hoje.

Eu Estava no ônibus, voltando do trabalho, quando a vi sentada perto de mim. Lembro que gritei muito (e como gritei). Pedi que me levassem ao médico, disse que não estava me sentindo bem.

O cobrador me deixou descer sem pagar a passagem e uma senhora me acompanhou até o hospital. Quem me atendeu foi o residente, um rapaz não muito mais velho do que eu.

“O que aconteceu?”, ele perguntou. No que respondi: “estou alucinando. O sol forte não me fez bem!”

Passei a noite no hospital, sendo medicada com sabe lá que remédios. Mas ela continuava lá. Parada. Sem mover um músculo.

No dia seguinte, quando acordei, Ela Estava de frente para mim. Imóvel.

O médico que me atendeu disse que estava tudo bem comigo, que a alucinação foi causada pelo calor.

Eu fui pra casa e ela foi comigo.

E foi assim ao longo dos anos que se passaram.

Com o tempo, eu fui me acostumando com sua presença. Sua aparência já não me assustava e seu silêncio não me incomodava mais.

Para todo o lugar que eu ia, lá estava ela. No cinema, Ela Sentava ao meu lado. Na fila do banco, ela ficava atrás de mim. E até mesmo nas fotografias ela sempre aparecia ao lado. Claro que só eu podia vê-la.

Às 7h, quando eu acordava, ela estava na frente da minha cama.

Às 8h, quando eu ia trabalhar, ela sentava ao meu lado.

Às 12h30, quando eu almoçava, ela ficava em pé me encarando.

Às 18h, quando eu voltava de metrô, ela sentava na minha frente.

Às vezes eu esquecia o que ela era, e lhe oferecia o que estava comendo ou até mesmo pedia sua opinião sobre algo.

Ela nunca falou. Nunca se moveu. Nunca fez nada. Nos primeiros anos, tentei de tudo para descobrir porque ela estava ali. Abdiquei do meu ceticismo para consultar médiuns e especialistas espirituais. Ninguém soube me dizer do que se tratava.

Consultei psiquiatras, neurologistas, psicólogos. Todos diziam a mesma coisa: “você está bem. Vá para sua casa e descanse.”

Acabei desistindo de entender a presença dela, simplesmente me conformei. Comecei a conviver com meu fantasma.

Mas, um dia, tudo mudou. Num dia quente como hoje, eu sai do trabalho e perdi o metrô. Tive que pegar o ônibus das 19h. Nesse Dia ela sumiu. A partir desse dia, eu nunca mais a vi. Nesse dia, depois de muito tempo, eu finalmente senti medo.




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