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O Apogeu

Tags: apolo

     Apolo era um jovem rico do sul da Espanha, morava em Málaga. Em sua precoce idade já mostrava um interesse particular pela solidão e por observar o mundo que o cerca. Aos 13 passava os dias nos campos de flores olhando cada detalhe delas e escrevia tudo o que via. Dava novos nomes as cores que encontrava, Imbua para o amarelo mais cinzento e triste, Carvacia para o vermelho mais intenso.
    Apolo sabia que era um ótimo partido, mas aos 18 anos encontrou dificuldade em encontrar uma moça para desposar. Queria uma jovem delicada, bonita, inteligente, que lhe fizesse rir... Mas o problema não era suas preferencias. Toda a jovem que ele cortejava já tinha um noivo ou namorado. Se sentia sozinho, apesar de bonito, rico, bem educado e cavalheiro todos a sua volta tinham alguém para fornicar ou simplesmente abraçar a todo momento e ele continuava com o nariz nos livros de ciência e com os dedos nas teclas de um velho piano branco.

      Ele tinha uma amiga, uma confidente a quem contava todas as coisas. Quem via pensava ser sua amada, mas tinham apenas uma ligação de irmãos. Na verdade era o velho jogo de os dois enganando a si mesmos e então enganavam um ao outro. Norma sonhava com Apolo, mas seus sonhos derreteram em lágrimas quando em um certo dia ele disse "Tu és como um homem para mim". Deste dia em diante ela passou a nutrir asco por seu amigo, fugia de Apolo nos chás beneficentes, ignorava quando ele cumprimentava ela e suas amigas, virava a face quando ele lhe estendia a mão. Ele perguntava "Por que, minha querida?" e ela respondia "Porque nascestes!". Sempre assim. Ele a amava mas tinha medo de dizer pois não queria que o mesmo se repetisse. Se repetisse com quem tanto adorava...
      Norma acabou, mas ainda vivia em sua mente. Fingiam que o outro não existia e diziam coisas horríveis pelas costas, "Ela é uma desfrutável, uma devassa!", "Ele é um calhorda, um aproveitador, tentou me agarrar!".
     Um dia enquanto contemplava as belezas do campo, encontrou o que parecia ser a folha de um diário. Ele leu e se emocionou com o desabafo da camponesa pobre, ela e sua família seriam despejados de sua humilde casinha por não ter dinheiro para pagar o aluguel. 
"Ai de mim, ai de mim. Ai de minha mãe, 
ai de meus irmãos, ai de meu pai!
Ai de nós, miseráveis que não tem pão e logo não terão teto."

     Apolo olhou para os lados e logo avistou uma casa pequena e frágil. Fumaça saindo pela chaminé, galinhas ciscando, uma pequena horta e uma bela jovem que voltava de um dia de trabalho. Sua mãe saia pela porta em prantos, "Apenas três dias...".
     Apolo voltou para casa e tirou dos cofre uma grande quantia. Muito menos era necessário para quitar a dívida, e ele sabia disso. Assim que o sol se fez de pé, lá foi Apolo até a casa da menina. Colocou a mala com o dinheiro perto da porta e bateu 3 vezes. Saiu correndo e se escondeu em um arbusto. Foi a garota quem abriu a porta. Bocejava e coçava os olhos. Olhou, olhou e não viu ninguém. Olhou para baixo, abriu a maleta e deu um grito que pode ser ouvido naquela árvore, no fim do horizonte.
     Seus pais acordaram e ela mostrou a mala com dinheiro, ela leu os dizeres na folha sumida de seu diário. "Fiz porque fiz. Meu agradecimento seria o prazer de sua companhia e dos girassóis no por-do-sol. Olhe a direita e os verá.". Eles se encontraram e dali nasceu uma linda amizade, depois um lindo romance. Seu nome era Paloma.
     Apolo desta vez não teve medo, quis noivar com ela, apresenta-la a sua família, deu tudo de si, escreveu-lhe  a mais linda sonata(Chamado de gênio pelos membros da alta sociedade pelo feito). Mas ela dizia que ainda era cedo. Seu coração secava um pouco toda vez que ela dizia "não", até que não havia mais nenhuma semente de esperança para cultivar. Apolo sentiu que era melhor abandona-la. Ela aceitou e viraram amigos.
     Apolo tomou uma decisão que para aquele tempo cheio de românticos era o suicídio: nunca mais iria amar outra vez, só se entregaria de novo ao amor se ele fosse capaz de tira-lo do chão. Iria se dedicar a sua genialidade, a música, aos pequenos detalhes da natureza e não mais se emprestar aos caprichos de uma mulher. A profecia se fez.
     Havia uma grande festa na cidade, o casamento da filha do Conde Moráles. Como já estava combinado, Apolo iria levar Paloma ao baile. Vestiu seu melhor traje e, embora a contra-gosto, pegou a mão de Paloma levando-a até a entrada do salão. Ao chegar ele olhou para Norma que dançava alegremente Lorenzo, que olhou para Paloma, que olhava para Murilo, e 5 segundos após toda essa troca de olhares, Paloma dançava com Murilo, Lorenzo observava o novo casal que girava e Norma adorava a face de seu parceiro. Apolo estava sozinho mais uma vez. Sentada em uma mesa havia uma jovem pálida que olhava para o chão, mas aquela jovem era tão adorável e livre ainda que com as amarras da solidão... Seu vestido Carvacia destacava seus lábios entreabertos em uma expressão do mais puro e genuíno tédio.
     Naquele momento Apolo olhava para ela, mas então ela ergueu a cabeça. Eles se olharam. Eles se olharam.
     Apolo tinha urgência e ela também. Correram um em direção ao outro e se abraçaram. Sorriam e choravam dizendo "Você é tão linda", "Tudo o que eu mais sonhei","Não quero te perder". Eles correram até o jardim, seu nome era Olívia, Apolo iria ser feliz... Se amaram ali. Foi um amor tão absurdo aquele que tomou a alma de Apolo que saiu de sua boca pela primeira vez com alegria "Eu te amo". Eles se beijaram mais uma vez, mas os lábios de Apolo se perderam do de Olívia. Apolo subia e subia. Olívia segurava-o pelos braços, mas ele subia e voava. Ela o agarrou e quis ir com ele, mas ele queria que ela vivesse. Suas lágrimas banharam o rosto de Olívia, e ele deixou ela voltar para o chão enquanto subia e subia. Olívia em desespero gritava seu nome, e mesmo quando a distancia fez dela menor que um grão de areia ele ainda ouvia "Apolo, Apolo, Apolo" sangrando na garganta de sua amada.
     Ele ouviu seu pranto até congelar e não poder mais respirar pois havia chegado ao apogeu de tanto amar.



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