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O relato de Adão - 2ª parte - Eva e a serpente: o diálogo e a queda.


Júnio Almeida

O tempo foi se passando e nem percebíamos. Não nos preocupávamos com isso. Certo dia, enquanto eu estava trabalhando, cuidando do jardim, minha mulher foi para o meio dele, para perto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Recordo-me muito bem de como deixei claro para ela também, sobre a ordem do Senhor de não comer daquele fruto. Mas surgiu alguém que não conhecíamos bem: a serpente. Ela era muito esperta. Erroneamente, nós sempre a subestimamos e menosprezamos. Com sua astúcia, a serpente não se atreveu a falar comigo, foi em alguém mais sensível que eu. Perguntou:

 - É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?

Minha mulher não tinha ouvido diretamente o Senhor dizer. Eu que repassei a instrução para ela - mas de forma fidedigna.
Ela seguiu seu instinto feminino e resolveu responder à pergunta:

 - Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, o Senhor falou que não podíamos comer nem tocar nele para não morrer.

Eu não falei para ela que não podia tocar no fruto; não podíamos comê-lo, mas para evitar qualquer perigo, sempre aconselhei que ela ficasse longe daquela árvore. A propósito, a serpente sempre fica próxima das coisas que nos aproximam da morte. Ela gosta de unir o inútil ao desagradável, embora pareça o contrário. Infelizmente minha mulher não percebeu que não deveria dar ideia à serpente. Como ela gosta de conversar, foi justamente nas palavras que aquela que rasteja ludibriou-a. Prosseguiram:

 - É certo que vocês não irão morrer. Porque Deus sabe que no dia em que vocês comerem desse fruto, os seus olhos serão abertos de uma maneira que não imaginam. Na verdade, vocês conhecerão tanto quanto Deus, sobre o bem e o mal.

Oh discurso infernal! Aquilo mexeu com minha linda adjutora. Ela parou e ficou olhando para o horizonte, pensando em como seria se aquilo acontecesse. Respirava fundo; às vezes trocava olhares com a árvore e seu fruto. Começou a sentir água na boca. De repente sentou-se. Juntou as pernas de maneira que pudesse colocar os cotovelos nos joelhos e as mãos no rosto. Pensou, pensou, pensou. A dúvida não saía da cabeça. Eu não estava por perto para aconselhá-la sobre o que fazer e ela sabia que eu me oporia. Intuitivamente, para ela, ter mais conhecimento seria melhor. Daí,  vagarosamente se levantou. Aos poucos foi olhando para o fruto e se aproximando. O coração começou a acelerar. A respiração ficou ofegante. Estava nervosa, quase que a ponto de chorar. "E se eu morrer? Se o que Deus falou é verdade e eu morrer?", "Mas e se eu não morrer e puder conversar melhor com o Senhor?! De igual para igual! Ai, o que eu faço! E se a serpente tiver razão?". O coração continuou acelerado. Fechou o olho... Decidiu comer.

Ela disse que foi estranho, pois a princípio, não sentiu diferença. Abriu os olhos e... Nada. Nem estava morta (por isso abriu os olhos - lógico) nem se sentia mais inteligente. Correu até mim. Quando a vi de longe com o rosto de espanto, estranhei. Nunca a tinha visto com aquela expressão. Ela estava diferente, era nítido. Perguntei-lhe:

 - O que foi que aconteceu? Você não parece bem.

Ela evitava me olhar nos olhos.

 - Meu amor, coma também, por favor.

Foi quase um reflexo: quando olhei aquilo em suas mãos, dei um passo para trás. Pus as mãos em minha cabeça.

 - Não podemos comer isso! Deus deixou claro.
 - Ele disse que morreríamos. Comi e ainda estou viva. A serpente...
 - Serpente? Você deu ouvido a ela?
 - Ela me falou que nós vamos conhecer tanto quanto o Senhor e não vamos morrer.

Confesso que olhei e me senti tentado. Além do mais, estava começando a me sentir inferior à mulher. Estava achando que ela sabia mais do que eu. Não gostava daquilo. Sabia que ela tinha sido enganada, mas eu tinha convicção do que seria aquilo. Além do mais, ouvia claramente a voz do Senhor gritando dentro de mim para não fazer o que era errado.

Mas o olhar da minha mulher era meigo; quebrava-me por dentro. Era sutil, mas fortemente convincente. Tinha em minhas mãos a decisão: rejeitava o convite para não macular minha consciência e perderia minha esposa ou aceitava, e talvez conquistá-la-ia ainda mais. Agora era meu coração que acelerava, minha respiração que ofegava. "O que fazer?".

Preferi ser estúpido ao querer fazer todas as vontades dela – e as minhas. Conscientemente desobedeci a Deus. Ela foi enganada; eu, desobediente.

Embora não caí fisicamente morto, minha consciência foi alterada. Comecei olhá-la diferente. Passei a mão em minha cabeça e esfreguei no rosto. De repente perguntei-lhe:

 - Por que você está nua?
 - Quê? Por que NÓS estamos, não seria o que você deveria perguntar?!! - disse-me arrogantemente.

Ela nunca tinha falado naquele tom de voz comigo.

 - Abaixe seu tom de voz quando falar comigo!  - Falei em tom baixo, mas ríspido.

Ela saiu chorando.

 - Aonde você vai?

Não obtive resposta.

Ela estava com vergonha de mim, e claro, eu dela. Mesmo assim fui atrás.

Nunca havíamos brigado. Não sabia o que era vergonha. Ela nunca tinha chorado; nem eu. Essa foi a primeira conseqüência ruim - dentre muitas outras que se seguiriam depois.

CONTINUA...



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